9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (VI)
NOSTALGIA (6)
NOSTALGIA (6)
ILUSTRADORES PORTUGUESES NAS PÁGINAS DE “O MOSQUITO”
VITOR PEON, O AMIGO E O ARTISTA – 1
por José Batista
Foi ainda na primária, em meados dos anos 40, que pela primeira vez vi n’"O Mosquito" uma história aos quadradinhos assinada por Péon. Pela grafia do nome julguei que não fosse português. Mas foi somente na António Arroio, em 48, nas aulas do mestre Rodrigues Alves, que fiquei ciente da sua nacionalidade. Era português e nascera em Luanda a 3 de Abril de 1923, filho de um oficial do exército do quadro colonial e de uma senhora de ascendência Espanhola, de onde lhe vinha o apelido. Com dez anos, reformado seu pai, vem com a família para Lisboa e matricula-se na escola primária D. Pedro V, em Alcântara. Concluída a 4ª classe frequenta, na escola Industrial Marquês de Pombal, o curso de serralheiro mecânico, mas a paixão pelo desenho não o deixa concluir o 3º ano, desistindo. Em 1937, José David, seu vizinho, chefe da secção de retoque da Bertrand & Irmãos, reconhecendo as potencialidades artísticas do jovem Victor Amadeu Batista Péon Mourão – seu nome completo –, insere-o como ajudante nessa casa de artes gráficas, a qual é, na altura, o expoente máximo em Portugal. É aí, ao contactar com as técnicas mais avançadas nas áreas de zincografía, litografia, fotografia, offset, e simultaneamente com grandes nomes das artes gráficas, entre os quais, Alfredo Morais, Stuart Carvalhais e José Baptista Rudy, que alarga e aprofunda conhecimentos e técnicas que seriam, no futuro, o suporte da sua vida profissional.
Os primeiros trabalhos que publicou numa revista infantil, foram duas capas na "Colecção Aventuras", a primeira delas no n.° 2, em 1940, réplica de uma vinheta de cowboys da autoria do ilustrador inglês Reg Perrolt que profundamente o influenciou no início de carreira.
Três anos depois publica n'"O Mosquito" duas histórias em BD, "Falsa Acusação" em 1943, e "O Juramento de Dick Storm" em 1944, as primeiras de um desenhador português, antes ainda de E.T. Coelho, as quais atestam claramente a influência do mestre britânico e, simultaneamente, a admiração que Péon nutre pela sua obra. Foi nessas duas séries ilustradas, – duas páginas por número, sem balões e com o texto didascálico, (sob as vinhetas) – que ainda criança deparei com o seu nome.
Coleccionador que fui de todos os jornais infantis publicados em Portugal, recordo numa das habituais visitas ao meu atelier, em pleno Prec (1974) a admiração de Péon ao descobrir, entre várias outras, a "Colecção de Aventuras", encadernada. Emocionou-se ao folheá-la. Vi-o quedar-se sem palavras, pensativo, perante certas páginas, colocando marcadores de papel entre elas. Intrigado questionei-o por que o fazia. Disse-me serem os primeiros desenhos seus que tinham sido publicados e que os não via há perto de três décadas. Desconhecia de todo esse facto, até aí. Os seus longos longos dedos pareciam acariciar o papel e não mentiria se afirmasse que me pareceu emocionado. Com que incontido prazer os reveu!
Contou-me que fora Cardoso Lopes, um dos directores d' "O Mosquito", quem lhos dera a fazer, quase como teste, face a uns desenhos que lhe tinha mostrado.
(Continua)
Última página de "Falsa Acusação", série desenhada por Vitor Péon e publicada n' "O Mosquito", do n.° 396 (10/04/1943) ao 423 (16/06/1943) do qual a extraímos por ter sido impressa apenas a preto.
Vitor Péon e capa da Colecção Aventuras, n.º 2, 1940 (imagens fornecidas por Jobat)
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Página de Falsa Acusação, O Mosquito nº 396, 1943
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ULISSES (III)
Texto e desenhos de Jobat
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