9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(XXI - XXII)
"Mosquito" - 3
Subsídios para a história da BD editada em Portugal.
A FORMIGA, um semanário para meninas, dirigido por «Tia Nita» (Mariana Cardoso Lopes), foi um suplemento gratuito de O MOSQUITO, ilustrado por E.T. Coelho e Jaime Cortez. Atingiu o n.° 180, se é que não saíram mais alguns depois de 1947.
Nos primeiros tempos, O MOSQUITO publicava anualmente álbuns de BD, únicos nesse tempo ao alcance dos rapazes: GUERRA NO PAÍS DOS INSECTOS, de C. Arnal; PONTO NEGRO, CAVALEIRO ANDANTE, de A. Moreno NOVAS AVENTURAS DE ZÉ PACÓVIO E GRILINHO, de A. Cardoso Lopes; e VIAGEM EXTRAÓDINÁRIA DE CÃO TOP, de C. Arnal.
Em Janeiro de 1946, o n.° 681 trazia em separata UMA ESTRANHA AVENTURA, de E. Freixas.
Nos fins de 1947 foram também editados pequenos álbuns de BD com as FORMIDÁVEIS AVENTURAS DE MICK, MOCK E MUCK, de A. Moreno, que O MOSQUITO publicara onze anos antes, a partir do n.° 1.
A VOLTA AO MUNDO, o maior romance de aventuras de todos os tempos e de todos os países (eles dizem!), de Henri de la Vaulx e Arnold Galopin, começou a ser publicado em fascículos com ilustrações de E.T Coelho e J. Cortez, mas não foi concluído.
Pelo Natal de 1944 foi publicado o ALMANAQUE DE «O MOSQUITO» E DE «A FORMIGA» PARA 1945, que foi o único sob a direcção de A. Cardoso Lopes e Raúl Correia.
Relacionadas com O MOSQUITO e fazendo parte do mundo dos seus leitores, várias outras revisas «satélites» foram publicadas, de que nos limitaremos a citar os títulos: COLECÇÃO (sic) DE AVENTURAS, MOSQUITO MAGAZINE, ENGENHOCAS, FILMAGEM e OLÁ!
De acordo com os usos da Época de Ouro teve as suas emissões radiofónicas, a «Meia Hora de O MOSQUITO», no Rádio S. Mamede e no Rádio Graça. Já nos anos 50, havia «O Vôo d'O MOSQUITO», integrado no espectáculo publicitário «Comboio das 6 e meia», no Politeama.
Teve um emblema para entrega aos assinantes, «de ouro a imitar latão», e de «prata ou coisa parecida». Também podia ser adquirido em troca de senhas publicadas nas folhas de construções; e mais tarde vendia-se, sem mais formalidades.
Promoveu numerosos concursos, de que citaremos «A Sorte de cada um», que consistia em premiar o leitor que apresentasse o exemplar onde fora carimbado um pequeno «mosquito». Para coleccionadores, um desses números carimbados constitui uma peça absolutamente ímpar.
Da lista de nomes dos seus leitores, que vierem a atingir notoriedade pública, citaremos VASCO GRANJA, que ganhou um prémio num concurso de «rabiscos». Na colaboração artística do «Cantinho dos Leitores», encontramos pequenos trabalhos de Carlos Roque (do ex-SPIROU belga) e de António Geraldes Lino (membro da Direcção do CPBD). O MOSQUITO foi «ressuscitado» em 17-XI-1960, por José Ruy e E. Carradinha, tendo vivido mais de trinta números; foi ressuscitado» em 14-X-1961, por António da Costa Ramos,e durou quatro números; sofreu uma tentativa falhada de «ressuscitação» em 31-XII-1975, por Fernando de Andrade, limitada a um número de prospecção do mercado. E «ressuscita», por último, em 1984 por José Chaves Ferreira.
_______________________________________________________O título que encima este trabalho, tomado de empréstimo de um outro que a seguir se publicará, foi sugerido por Jorge Magalhães, colega e amigo, estudioso, tradutor, coordenador e editor na área da B.D., o qual me sucedeu na coordenação e chefia de redacção da secção editorial de B.D. da APR, a partir de 1971, até que esta encerrou as portas em 1983. Estes textos abordarão dois períodos distintos: o primeiro dos quais entre 1954 e 1971, que hoje se inicia, de minha autoria. O segundo, refere o período entre 1971 e 1983, escrito por Jorge Magalhães, e ambos visam fornecer subsídios para a história desse império editorial, hoje extinto, que se chamou Agência Portuguesa de Revistas.
O IMPÉRIO EDITORIAL
O meu primeiro contacto com "O Mundo de Aventuras" deu-se em fins de 1949. Um colega mais velho que frequentava a António Arroio, na aula de desenho litográfico, mostrou-o a Rodrigues Alves. O tamanho do jornal, formato tabloide, impressionou-me pela dimensão, mas não só. Os admiráveis desenhos de Alex Raymond (Rip Kirby), e Neil O'Keeffe (Aventuras de Dick), entre outros, cativaram de imediato a atenção de quem - quase todos, incluíndo eu - até à data os desconhecia.
Porém, dado o formato, e o preço - 15 tostões - semanalmente, mais este do que aquele, o jornal estava a milhas da minha capacidade económica. Só quando ele mudou de formato, a partir do n.° 45, é que ocasionalmente - por causa da separata a cores que incluia - o comprava. E isto pela simples razão de que um colega, mais amante das separatas que das HQ que publicava, dava-me por elas 50 centavos, ficando-me o jornal, o que mais me interessava, por um escudo apenas.
Recordo de ir comprar alguns números atrasados, ao n.° 60, 2° andar, da Rua do Artesanal, na companha de uma ajudante de custura, empregada da minha tia. Essa empregada era fã das aventuras de Flash Gordon, publicadas n"O Mundo de Aventuras" com o nome de Roldan. O amores da pérfida rainha Rúbia, por Roldan, tocavam sobremaneira o coração da jovem aprendiz de costura.
Fomos atendidos, nesse local, por alguém que, três anos depois, viria a conhecer como a menina Lita, quando já desenhador na Agência Portuguesa de Revistas (A.P.R.), nas novas instalações na Rua Saraiva de Carvalho, 207, a Campo de Ourique. Foi ela a funcionária que mais tempo colaborou com essa empresa, pois quando dela saí, em 1971, ainda lá ficou.
Devo confessar que "O Mosquito" sempre foi o meu jornal de HQ de eleição, e nenhum outro, após o seu términus em fevereiro dde 1953, lhe ocupou o lugar. Sempre me questionei das razões por que acabara, mas só cabalmente o compreendi, quando tomei conhecimento do triste e insólito fim do empório editorial que era a A.P.R. e das causas que o motivaram.
Comecei a trabalhar nessa empresa mais ou menos a meio do último semestre de 1954, logo após a saída de Roussado Pinto e Vitor Péon para o Fomento de Publicações. As instalações na Saraiva de Carvalho eram recentes, pois a A.P.R. tinha-se para aí mudado em Março desse ano. O facto não tem qualquer relevância, pois ignorava-o quando aí fui mostrar umas ilustrações que fizera. Quem me atendeu, no "guichet" amplo do "hall" de entrada, foi a menina Lita. Foi ela quem mostrou os meus desenhos a Mário de Aguiar, num gabinete interior. "Que não senhor" - me disse de regresso, devolvendo os desenhos; -"O que o sr. Aguiar precisa não é de um desenhador, mas de um retocador, para acabar algumas ilustrações que necessitam acrescentos, por causa do formato... " - Bem! Sendo assim... recolhi os desenhos e rumei em direcção à larga porta envidraçada. Mas, naqueles tiques cuja causa ignoramos, uma ideia luminosa me feriu as meninges. A menina Lita já voltara costas, em direcção à tarefa que por certo lhe fizera interromper, quando, com a ponta dos dedos, tamborilei o pequeno vidro de "Guichet".
- Olhe! Faz favor! Como desenhador posso com facilidade fazer esse serviço. Eu aceito-o!
(Continua...)
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ULISSES (XVIII e XIX)
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