terça-feira, 18 de setembro de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LXXI e LXXI-A) – A PAIXÃO DE ROUSSADO PINTO (2 e 3) – TEXTO DE MANUEL CALDAS




NONA ARTE 
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(LXXI – LXXI-A) 

O Louletano, 6 de Setembro de 2005 

A PAIXÃO DE ROUSSADO PINTO (2) 

Por Manuel Caldas 

A evolução da revista seria grande, mas esse primeiro número apresentava já todas as características, boas e más, que a marcariam até ao último da primeira fase: histórias aos quadradinhos antigas e modernas, de vários países, reedição de material já publicado em Portugal, a presença de Eduardo Teixeira Coelho e de Jesus Blasco, a referência destacada aos nomes dos autores das histórias (a partir do número 5, duas páginas passariam mesmo a ser preenchidas com uma rúbrica, a 9ª Arte, destinada a dar a conhecer os autores de banda desenhada, preocupando-se em especial com mostrar as fotografias deles), a ausência de material realizado exclusivamente para as suas páginas, espaço para novelas ilustradas e mesmo para a poesia (de Raul Correia), um colorido fraco, uma legendagem mecânica, muitas gralhas e, coisa banal na época, um considerável desrespeito pela forma original das pranchas publicadas (geralmente acrescentando-se-lhes espaço na parte de cima das vinhetas, o que permitia intro­duzir texto, naturalmente redundante). E havia, claro, o contacto com o leitor, a preocupação de lhe falar dos projectos, de lhe chamar a atenção para a qualidade do que se publicava, de o entusiasmar.

No começo a revista era ainda pequena, de facto, mas logo no número 5 passou a ter mais oito pági­nas, no número 44 a separata de­dicada ao futebol foi substituída por um suple­mento de banda desenhada "para as meninas", A Formiga, de quatro pequenas páginas, e a par­tir do número 50 passou a incluir um poster do ta­manho de quatro páginas dedica­do ao mundo do desporto e do es­pectáculo.

Claro, a certa altura a revista já era grande demais para continuar a custar os mesmos 5$00 e foi necessário subir de preço. Assim, com o número 64, o Jornal do Cuto passou a custar 7$50, mas o seu director aproveitou para o tornar maior: mais oito páginas, que, destacadas, formariam o volume "Selecções Jornal do Cuto".

Foi por esta altura, no final de 1972 ou início de 73, que a revista chegou mesmo a ter publicidade na televisão.

E o director quem era?

UM DIRECTOR APAIXONADO

Não é possível falar com profundidade do Jornal do Cuto sem falar do seu fundador, director e único responsável. E que o nome de Roussado Pinto, que foi trabalhar para O Mosquito ainda menor de idade, está associado a imensas publicações periódicas de inúmeros géneros, do final dos anos 40 ao início dos 80, distinguindo-se por um trabalho intensíssimo e um talento que se apercebe grande mas que quase sempre sacrificou à quantida­de do que fazia. A "mão" de Roussado Pinto reconhecia-se em tudo em que pousava, mas no Jornal do Cuto mais do que em qualquer outra publicação. E que a revista era publicada pela editora que ele fundara havia pouco, a Portugal Press, e era feita como ele queria, sem ter de prestar contas a ninguém a não ser ao leitores. Como tal, nela se reflectiram as suas virtudes e defeitos, o seu carácter e a sua formação: uma inquietação e alguma insatisfação, que levariam às várias mudanças físicas da revista; um entu­siasmo desmedi­do pelo que fazia, que se espelhava na forma como anunciava as coi­sas; uma grande generosidade, que o obrigava a querer dar sem­pre mais pelo preço que custa­va a revista e até a prometer mais do que o que de­pois conseguia concretizar; uma sensibilidade ar­tística e um gos­to ambíguos, que o impeliam tanto a glorificar o ta­lento dos autores que publicava – e mesmo de outros que não publicava – e a chamar a atenção para os seus defeitos, como a alterar a forma original dos seus trabalhos.

(Continua...) 


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O Louletano, 13 de Setembro de 2005 

A PAIXÃO DE ROUSSADO PINTO (3) 

Por Manuel Caldas  

TRANSFORMAÇÕES 

A certa altura, com problemas de distribuição, Roussado Pinto resolveu que seria a sua própria editora a fazer aquele trabalho. Como uma tal actividade seria semanalmente empreendimento exagerado para uma editora pequena como a Portugal Press, o Jornal do Cuto tornou-se mensal a partir do número 94, de 1 de Maio de 1973, com 68 páginas, mais as destacáveis com A Formiga e o quadro da His­tória de Portugal, além do poster, agora dedicado às capas dos núme­ros 1 de publica­ções de banda de­senhada. O pre­ço passava a ser de 15$00 e a re­vista a incluir principalmente, para insatisfação de Roussado Pinto mas para agradar aos leito­res, histórias completas. De qualquer modo, o material escolhi­do por ele conti­nuou a ser do mes­mo género e a re­vista manteve-se igualmente interessante, apesar de perder o suspense que providen­ciavam as numerosas histórias em continuação.

A experiência de distribuição própria não resultou e em 1 de Abril de 1974, com o número 105, o Jornal do Cuto voltou a ser distribuído, como o fora no primeiro ano e meio da sua vida, pela Agência Portu­guesa de Revistas. E voltou também a sofrer transformações, passan­do o leitor a lucrar: tornou-se quinzenal, ainda que reduzindo em dezasseis o núme­ro de páginas. Nesse número o habitual poster foi substituído pelo fac-símile do pri­meiro número d'O Mosquito (vindo a ser incluído no número 108 o fac-símile do segundo número), por ini­ciativa do ilustra­dor José Batista, chefe de redacção do jornal desde 1972. A publica­ção de tais separa­tas são uma prova perfeita não só da paixão de Roussado Pinto por aquele célebre jornal infantil como da sua generosidade.

A 25 Abril de 1974 deu-se a revolução, mas os novos tempos cheios de promessas não foram bons para o Jornal do Cuto, pois com o número 109, de 1 de Julho desse mesmo ano, a revista suspendeu a publicação (apesar de no número anterior anunciar para o próximo "uma surpresa que iria deixar todos os leitores varados"). O seu director despedia-se falando de grandes prejuízos, de aumentos do custo de papel e oficinais superiores a 120 % (pelo que, para continuar a publicar-se, o Jor­nal do Cuto teria de passar de 15S00 para 33$00). Lembro-me perfeitamente da impressão de desgraça que aquilo provocou em mim, ao an­tever já o fim cer­tíssimo das duas outras revistas que então acom­panhava, o Tintin e o Mundo de Aventuras. Mas, estranha­mente, e feliz­mente, ambas continuaram a sair, e com o mesmo preço durante meses. E o aumento que acabaram por ter não foi de modo algum superior aos que, regularmente, sempre haviam tido.

(Continua...)

 


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PERRO NEGRO em A MORTE DA ÁGUIA
(2 e 3)
Benoit Despas (arg), José Pires (des)


 

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