domingo, 28 de julho de 2013

COM O ZÉ DAS PAPAS (de Bordallo Pinheiro) 27 e 28 – IN MEMORIAM (de Gabriel Fialho de Évora) + A DIETA MEDITERRÂNICA


O "Zé das Papas", de Raphael Bordallo Pinheiro

COM O ZÉ DAS PAPAS 27 e 28

Gazeta das Caldas, 12 de Julho de 2013
IN MEMORIAM

Gabriel Fialho

Quando se atinge alguma "prática" da vida começa a tornar-se corriqueiro novas da "partida" de alguns, com quem privámos, de quem aprendemos e cujo vazio vamos sentir.

Refiro-me ao Gabriel Fialho, do homónimo restaurante ebo­rense, cozinheiro, gastrónomo de enorme gabarito, pessoa do mais fino trato que tive o privilégio de conhecer e que se lembrou de "abalar" no passado 27 de Maio.

Recuando no tempo:

Em Janeiro de 1973 cheguei a Évora para continuar a cumprir o serviço militar, que era então obrigatório.

Tenho sido, aqui confesso, um homem de sorte. Sou de uma geração, nascida no fim da 2ª Guerra Mundial, que, como tantos, tendo crescido modestamente – era o padrão da época – procurou tirar da vida o melhor partido e apro­veitar, sempre, o que ela no traz de melhor.

E nesse espírito, eis-me, saí­do do Quartel General, atraves­sado o Jardim das Canas, dados os primeiros passos naTavessa das Mascarenhas, ao balcão do Fialho, beberricando um "cana" e comendo uma das suas inigualáveis empadas de galinha.

Foi um contributo decisivo para a minha iniciação dos "comeres", por onde ainda me vou mexendo!

Na época reinava o pai Fialho, o velho "cuco", alcunha cuja ori­gem nunca cuidei de saber, com o seu velho mas espaventoso Mercedes.

Durante o tempo passado em Évora por lá deixei parte signifi­cativa do meu estipêndio, mas com inegável proveito e gozo.

O Gabriel Fialho proporcio­nou-me refeições, cujo delicado sabor sou capaz de recordar sem grande custo.

Petisqueiro convicto, lembro-me bem de aprazar uns miolos panados ou umas costeletinhas também panadas, para a merenda, depois do toque à ordem...

Lá me familiarizei com a me­lhor comida alentejana e por lá fiz conhecimentos e algumas boas amizades.

Depois do meu pai falecer, nos primeiras dias de Janeiro de 1974, pedi transferência para Lisboa e rompi o convívio, quase diário, com o Gabriel, enfiado entre tachos e panelas, mas mais com o Amor, que reinava por trás do balcão.

Voltei aos meus domínios Caparicanos mas fui mantendo contactos, amiúde, com aquela boa gente, que visitava "na linda cidade gastadora do meu dinheiro, mas... bom vinho"

e de quem recebi repetidas gentilezas.

Um dia conto a história da supra citada frase e como vim de Évora com a, então, "vil fama" de comunista pois, quan­do estava de oficial de dia os soldados iam comer ao Quartel General! Isso e como fiz gastar um latão de detergente para lavar a cozinha, no meu primei­ro serviço, o já referido golpe militar... São "peneirices" que vêm do respeito que sempre me mereceu a paparoca dos meus concidadãos.

Como grande divulgador da cozinha alentejana, lembro o afã desenvolvido pelo Gabriel Fialho, quando levou ao Casino Estoril a semana respectiva e o êxito que merecidamente obteve.

Mais recentemente, porque o restaurante fechava, e penso que fecha, à segunda-feira, não era raro ver os Manos Fia­lho e companhia, em gozo de folga, desembarcarem na Rua dos Pescadores, no Capote, na Costa.

Como o Amor vinha da con­sulta do Professor Carrageta a escolha recaía, necessariamen­te, num peixinho...

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com





 

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Gazeta das Caldas, 26 de Julho de 2013

A DIETA MEDITERRÂNICA


Tendo vivido, faz tempo, mo­mentos relevantes da minha vida em San Sebastian, capital de Gui­púzcoa, no país basco espanhol, ainda hoje passo os olhos pelo Diário Vasco.

Declaro, aqui e com grande prazer, que sou fã da cozinha basca. E da forma extraordina­riamente simples que os seus pratos revestem, sustentados na inegável qualidade das matérias primas empregues.

Como sou petisqueiro convicto revejo-me naquela rotina dos "pintxos", que os bascos vão comendo, ao balcão, depois do trabalho, em amena cavaqueira, dispensando as mais das vezes, o jantar tradicional; "pintxos" regados a sidra natural – bebida de maçã tão do seu... e meu agrado – ou a txakoli, um vinho ligeiramente gasoso e ácido, de produção local. Mas confesso que, quando o encontrava, bebia com mais agrado um clarete, vinho também do meu agrado e tão arredio por estas bandas.

Foi no Diário Vasco que li, no final de Maio último, um artigo sobre a dieta mediterrânica, de que repesco as ideias funda­mentais.

É uma dieta que se realiza com os produtos típicos, locais, sem juntar outros, nada bons para a saúde.

Aqueles alimentos fornecem importantes nutrientes, como os antioxidantes (fruta e verduras) e ácidos Omega 3 (peixe azul), benéficos para a saúde e, em particular, para prevenir doenças neurodegenerativas.

Lamentavelmente, é cada vez maior o número destas doenças, e por isso, saber que a dieta medi­terrânica pode ser um bom aliado para combatê-las é importante. Actualmente, são numerosas as investigações em curso para evitar o aumento do nível de prevalência destas patologias.

Por isso, durante as XVII Jor­nadas de Nutrición y VII Congreso Internacional de Nutrición, Ali­mentación y Dietética celebra­das recentemente na Faculdade de Medicina da Universidade Complutense de Madrid, foi abordada, de forma especial, a relação que existe entre certos nutrientes e as doenças neuro­degenerativas.

Um dos investigadores, o dou­tor Pérez de la Cruz assegurou que "uma dieta inadequada é um dos principais factores que faz com que se desenvolva uma doença neurodegenerativa. Várias linhas de investigação procuram ligar, por exemplo, a prevalência e a evolução do Alzheimer com diferentes tipos de nutrientes, como os antioxi­dantes e ácidos omega3".

Os antioxidantes dos vegetais funcionam como anti-inflamatório. Ora a dieta mediterrânica en­globa uma série de nutrientes importantes que podem ajudar a prevenir estas doenças cada vez mais comuns. Mas é preciso continuar os estudos pois, por agora, no há evidências claras da eficácia destes nutrientes.

Outro dos investigadores pre­sente nas citadas jornadas, Ángel Gil, afirmava que "demonstrar a influência dum único nutriente de forma específica é potencialmen­te possível nalgumas doenças, não naquelas (como as neuro­degenerativas) cuja evolução é muito lenta e onde se verificam muitas variáveis interactuando, como os hábitos de vida (activi­dade física, tabagismo...) e na­turalmente, a própria genética".

Mesmo que, para além da ge­nética, existam certos nutrientes que têm poder anti-inflamatório e podem actuar sobre o Alzhei­mer, doença que, desde inicio, se suporta num processo de inflamação associado aos neu­rónios. Para isso, é fundamental a ingestão de alimentos que fun­cionam como anti-inflamatórios, tal e como é o caso dos vegetais, que possuem substâncias antio­xidantes.

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com



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