quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (26) – AMIGOS DO CNBDI (19) por José Ruy


ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI 
NO KUENTRO (26) 

AMIGOS DO CNBDI (19)
por José Ruy

Vou evocar a segunda sessão «Às Quintas Falamos de BD», no ano de 2012, e que focou as «Construções de Armar», tão populares até finais do século XX. Quase todos os jornais infantis da época inseriam nas suas páginas ou em separata, planificações de casas, veículos de terra e ar e figuras para serem coladas em cartolina e depois de recortados os módulos, armadas com cola sobre uma base.


Um dos trampolins de O Mosquito para se elevar ao patamar que alcançou, foi também sem dúvida (quanto a mim) as construções de armar. Houve vários autores a colaborarem n’O Mosquito, o próprio Tiotónio, mas quem se evidenciou com grande destaque foi o António Velez, irmão do Manuel Velez, que litografava as cores do jornal até me passar o testemunho ao partir para a África, em 1947.

Sempre dediquei uma boa amizade ao António Velez, pelo convívio permanente na redação/oficina/tertúlia de O Mosquito. Uns anos antes tinha ido à sua propriedade na Rinchoa, acompanhado de outro amigo, o Dâmaso Afonso, pois este pretendia fazer-lhe uma entrevista para o suplemento «Cuco» que dirigia num jornal regional.

António Velez (foto de Dâmaso Afonso)

Essa entrevista fora gravada em fita magnética com um pequeno gravador de grande alcance e que o Dâmaso colocou na sua algibeira superior do casaco. O som não era da melhor qualidade, pois a intenção era apenas de servir para depois passar a escrito o que havia sido falado. Tanto o Dâmaso como eu tirámos bastantes fotografias aos seus pequenos inventos, desde um hovercraft que chegou a movimentar-se a meio metro do chão, à adaptação de automóveis de um só lugar, para a serventia ao longo da propriedade. Também a curiosidade da sua própria casa que havia dezenas de anos construíra peça por peça, em madeira, talvez a sua melhor e mais ousada «construção» de armar.

António Velez no seu carro eléctrico (foto de Dâmaso Afonso)

De posse desse material e em colaboração com o Dâmaso Afonso preparei um PowerPoint de modo a podermos fazer uma justa homenagem a esse maior autor de construções de armar. Na sessão esteve também presente o primeiro impressor da célebre máquina de impressão de O Mosquito, o Manuel da Luz, filho do Manuel da Luz, e que mora na Amadora. 

Na minha opinião a grande qualidade do Velez foi a técnica como realizou as planificações que eram impressas no papel fino dos jornais. Portanto era indicado aos seus construtores colarem as folhas em cartolina. Estas eram adquiridas nas papelarias, para trabalhos manuais, com uma gramagem praticamente estandardizada. Então o Velez calculava rigorosamente as medidas do desenho das peças contando com a espessura que estas viriam a ter depois de coladas na cartolina.

Quem quisesse armar a construção utilizando o papel da publicação, não daria certo. Daí o seu grande êxito. Todas davam certo com as dobras e não havia qualquer dificuldade nas montagens.

A maioria dessas construções foi dedicada às casas regionais portuguesas, do Minho ao Algarve incluindo os arquipélagos, numa pesquisa séria e aturada, que o levou a pedir autorização ao arquiteto Raul Lino para utilizar algumas das suas criações.

O Carlos Gonçalves guardou uma completa coleção destas peças, tendo conservado algumas armadas. Depois de O Mosquito ter acabado, o Velez comprou uma máquina de Offset de pequeno formato e imprimia já em cartolina as construções, com grande saída, até por parte do Ministério da Educação, para trabalhos manuais nas escolas.

No debate que se seguiu à projeção do videograma com a voz do Velez, (o único registo existente) o José Garcês falou da sua experiência, nos anos 80, de ter feito também uma coleção das casas portuguesas nos mesmos moldes do Velez, editada pelas edições ASA, e monumentos como os Jerónimos, A Batalha e a Torre de Belém. Embora eu tenha levantado a questão do desconto da espessura da base, não consegui apurar se o Garcês também tem em atenção esse pormenor.

Mas em agosto de 2012, fez ele o desenho da construção de armar da «Sé da Guarda» editada pela «Agência para a Promoção da Guarda», e como não acompanhou o desenvolvimento do processo gráfico depois que entregou os desenhos, a entidade em questão achando que valorizava a obra, resolveu imprimir as nove folhas em cartolina fibrosa com meio milímetro de espessura, de tal ordem que ninguém consegue montar a construção, não só pela dificuldade em recortar peças muito pequenas, como merlões, mas porque a espessura não condiz com o desenho original. Os perímetros ficam acrescidos e não acertam.

É o inconveniente de deixar um trabalho entregue ao critério de pessoas menos qualificadas, por isso eu acompanho todos os meus trabalhos até à fase final, tanto na impressão dos livros como no caso da colocação de pinturas, quando estas são aplicadas em paredes.

Naturalmente que olhando para os títulos de algumas destas sessões do CNBDI, pessoas há que se têm questionado sobre, por exemplo, «o que é que as construções de armar têm a ver com Banda Desenhada». Esquecem-se de que as construções sempre estiveram intimamente ligadas aos jornais infantis, e estes são o maior e mais poderoso veículo da divulgação da Banda Desenhada. Mas voltarei a dissertar sobre esta questão, quando da próxima sessão do mês de Abril de 2012, que foi dedicada à «Guerra Colonial».

(continua)

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