(da Lusa, em 06/09/2010)
A edição é o passo visível de um negócio que aconteceu em 2009, quando a Asa passou a deter os direitos em Portugal das histórias de Tintin, detidas internacionalmente pela chancela belga Casterman.
Os álbuns de Tintin que estavam no mercado português tinham, desde finais dos anos 1980, a chancela da Editorial Verbo e a personagem principal tinha sido traduzida para Tintim (com “m” no fim).
Maria José Pereira, responsável pela banda desenhada na Asa, não revelou o valor envolvido no negócio de transferência, mas admitiu que a edição da nova tradução de Tintin era "um sonho pessoal de há muito tempo".
"Bati-me muito por este contrato e as negociações não foram fáceis, arrastaram-se por mais de um ano", disse.
A nova edição chega ao mercado num formato mais pequeno (19,5 x 28 cm), "mais apelativo para um público mais novo" e com outra tradução de Maria José Pereira e Paula Caetano a partir do original.
"Quisemos dar mais atenção à linguagem, dar-lhe uma sequência, condensar as ideias sem encher muito os balões", disse a editora, garantindo que os nomes das restantes personagens não sofrem alterações.
Neste mês de Setembro foram editados os seis primeiros volumes, numa sequência cronológica de publicação, referiu Maria José Pereira, sendo disponibilizados, por exemplo, "Tintin no país dos sovietes", "Tintin no Congo" e "Tintin na América".
Em Novembro serão editados outros seis volumes, prevendo-se que toda a coleção de 24 álbuns esteja disponível no mercado até Outubro de 2011, mês em que se espera a estreia da adaptação de Tintin ao cinema por Peter Jackson e Steven Spielberg.
Para Maria José Pereira, as aventuras de Tintin são uma "obra de grande qualidade" e alguns volumes são "documentos históricos" criados há mais de setenta anos por George Remi, mais conhecido por Hergé.
A Asa, que integra o grupo Leya, tem atualmente o catálogo mais representativo de banda desenhada em Portugal, por juntar histórias de personagens como Astérix, Spirou, Alix, Gaston, Blake & Mortimer, Lucky Luke e autores como Hugo Pratt e Milo Manara.
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Diário Digital, quarta-feira, 29 de Setembro de 2010
Nuno Artur Silva: «Tintin percorreu todo o século XX»
Texto: Pedro Justino Alves
O espaço Tintin, em Lisboa, acolheu como era esperado a apresentação dos seis primeiros livros das aventuras do jornalista mais famoso do Mundo (até Outubro de 2011 deverão estar publicados todas as 24 obras). Há dois aspectos a reter nesta nova colecção: o nome do herói perdeu a letra «m» no final e voltou à sua versão original e, principalmente, as histórias ganharam um formato diferente (mais pequeno e de capa dura), o primeiro do Mundo, o que preenche de orgulho a responsável pela banda desenhada da ASA e também tradutora das obras, Maria João Pereira. Profundo admirador da BD criada pelo belga Hergé, Nuno Artur Silva defendeu que a edição das aventuras de «um herói que não existiria nos nossos dias faz todo o sentido», recomendando a sua leitura num dia chuvoso e com bolachas como companhia…
Maria João Pereira considera que Nuno Artur Silva é uma das pessoas que «mais conhece» Tintin em Portugal e por isso foi convidado pela ASA para falar sobre as aventuras do jornalista. O argumentista recusou os elogios mas, durante a sua apresentação, foi notório verificar o seu conhecimento, falando sem recorrer à anotações e com uma grande clareza sobre alguns dos aspectos deste clássico da BD. «E um clássico serve de referência para várias gerações», defendeu.
A principal mensagem que Nuno Artur Silva procurou transmitir aos presentes no Espaço Tintin foi que a BD de Hergé consegue ser uma espécie de resumo do século XX, «atravessa por inteiro o século passado».
«Tintin marca um paradigma na BD, o paradigma da linha clara, que deixou muitos discípulos, não só no desenho, mas também no design e na própria história. Tintin é um tipo de herói que não encontra o seu espaço nos nossos dias devido a sua clareza. Hoje o mundo é mais complexo. Portanto, agora as aventuras de Tintin não seriam possíveis.»
Aventuras que levaram o jornalista pela América, por África, pelo Tibete mas também pela Lua. «As suas andanças esgotaram o Mundo», considera Nuno Artur Silva. «Esse Mundo já não existe e por isso faz todo sentido a publicação das suas aventuras. Um Mundo onde ainda existia uma certa ingenuidade.»
O argumentista acredita que o «quadradinho da BD mais importante é o que não está lá, é o que existe na nossa cabeça, o que está no meio de dois quadradinhos, a nossa imaginação». E ler Tintin é um caminho para esse estado imaginário, já que estamos sempre à espera do que vai acontecer no próximo quadradinho.
Nuno Artur Silva salientou também na sua apresentação os personagens secundários dos livros, que, para si, ganham mais corpo que o próprio Tintin, «que não tem existência pessoal, é apenas um veículo que faz rodar a aventura, uma figura idealizada. As figuras de carne e osso são os outros, que têm interrogações, que mostram as suas dúvidas, a raiva, as suas emoções».
Sobre o novo formato, o apresentador das Aventuras de Tintin foi franco e considerou a posição da ASA de «ousada», embora considere que o risco deverá ser recompensado.
Sobre as suas aventuras de sempre, Nuno Artur Silva nomeou «Tintin no Tibete» (salientou o valor da amizade), «O Segredo do Unicórnio» (o primeiro dos três filmes adaptados por Steven Spielberg, com estreia marcada para o próximo ano) e «As Sete Bolas de Cristal», entre outros.
«Num dia de chuva é uma óptima alternativa a televisão, a internet e ao computador. Voltar ao papel com um prato de bolachas, reconciliarmos com o caos e a confusão do Mundo».
Os primeiros seis livros da ASA são os seguintes:
«A Orelha Quebrada»
«Tintin na América»
«Tintin no Congo»
«Tintin no País dos Sovietes»
«O Lótus Azul»
«Os Charutos do Faraó»
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Texto oportuno, a fazer algo pouco vulgar: uma reportagem escrita relacionada com um evento de BD.
ResponderEliminarUma única e pouco relevante correcção: a senhora mencionada como Maria João Pereira (que é responsável editorial da ASA) chama-se, na realidade, Maria José Pereira (aliás, de há uns tempos a esta parte, passou a identificar-se como Maria José Magalhães Pereira.
Abraços.
GL