Público, suplemento Ípsilon, 19 Outubro, 2010
AS METAMORFOSES DE MOEBIUS NA FUNDAÇÃO CARTIER
Carlos Pessoa
Inquieto, desafiador, iconoclasta, imprevisível.
Quase todos os adjectivos podem ser aplicados à obra e ao percurso de Giraud/Moebius mas é elevado o risco de ficarem muito aquém do que há de mais substancial nas suas criações. Uma exposição inaugurada esta terça-feira na Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, em Paris (pode ser visitada até 13 de Março do próximo ano) procura fixar esse corpo de trabalho.
"Moebius-Transe-Forme" é o título da exposição, a primeira do autor em Paris com esta dimensão, que reúne mais de três centenas de desenhos originais, incluindo ilustrações inéditas. A palavra-chave para ver e entender a mostra é "metamorfose", algo que tem atravessado o percurso do artista de forma constante e consistente.
Moebius nasceu Jean Giraud no dia 8 de Maio de 1938 (Nogent-sur-Marne, França) e começou por assinar como Gir a sua primeira obra maior, a partir de 1963 - a série "westem" Fort Navajo, depois intitulada Blueberry. Moebius só aparece em 1975, quando o artista participou na fundação da mítica revista "Métal Hurlant", surpreendendo tudo e todos com um estilo gráfico e temáticas que estavam nos antípodas do registo realista da fase anterior. "Arzach" (1976), "Le Garage Hermétique" e, sobretudo, o genial "L'Incal" (1980, em parceria com o inclassificável Alexandro Jodorowski) são estações fundamentais de uma viagem questionadora e reflexiva que se prolonga em belíssimas ilustrações, serigrafias, capas e, fora deste registo, em incursões no cinema - "O Quinto Elemento", de Luc Besson; "O Abismo", dejames Carneron; "Tron", de Steven Usberger; "Alien", de Ridley Scott ou o filme de animação "Les Maitres du Temps", de René Laloux).
Dois novos filmes apresentados em antestreia: um filme de animação em 3D inspirado no álbum de Moebius "La Planet Encor "e um documentário de 52 minutos sob a forma de um retrato do artista.
Esta exposição na Fundação Cartier não é uma estreia de Giraud-Moebius naquela instituição, pois a obra do artista já ali tinha estado exposta em 1999 no quadro de "1 Monde Réel", uma exposição articulada em tomo das relações entre a realidade, a ficção e a ficção científica.
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