ENTREVISTA COM FILIPE ANDRADE
Entrevista publicada na Zona Monstra, revista de banda desenhada e ilustração portuguesa do projecto ZONA.
Conduzida por André Oliveira
Filipe Andrade é um caso raro de sucesso na actualidade da banda desenhada portuguesa e um dos maiores embaixadores desta expressão artística no mercado internacional.
É certo e sabido que no nosso país contamos com uma diversidade invulgar de estilos e de correntes criativas, muito potencial mas nem sempre uma expressão de negócio adjacente (o que se compreende dada a pequena dimensão do nosso mercado).
Filipe Andrade é uma das excepções à regra, com colaboração regular com uma das maiores editoras mundiais, a Marvel, e obras publicadas não só em Portugal (“BRK”, pela ASA em 2009) como no estrangeiro (“City Stories Lodz” em 2010).
Recentemente, além de ter sido o autor em destaque no último Festival Internacional de BD da Amadora, foi colaborador e autor da BD promocional do jogo para PS3 “Under Siege” (o primeiro a ser desenvolvido exclusivamente em Portugal, por intermédio da Seed Studios) e foi o desenhador das mini-séries da Marvel: “John Carter: a Princess of Mars” e “Onslaught Unleashed”.
A entrevista que se segue ocorreu alguns meses antes do lançamento destas últimas obras:
Embora breve, a tua carreira é já recheada de êxitos e prometedora de muitos mais. O que te fez optar por ser ilustrador?
Eu decidi o que queria fazer na vida quando tinha 12 anos, depois de tirar um curso de BD leccionado pelo António Valjean. Mais tarde e mesmo tirando a licenciatura de Escultura na FBAUL, sempre me mantive perto da BD e foi nessa mesma altura que fiz o BRK.
Após o curso, a opção pela ilustração/BD foi natural, pois foi o tipo de trabalho que me foi aparecendo, um atrás do outro até a ilustração/BD ser a minha actividade principal.
Quais foram os momentos-chave que te definiram como o profissional que és hoje?
Não houve um momento-chave mas vários no caminho da minha profissionalização. Desses posso definir dois. O primeiro foi quando conheci o Cb Cebulsky, por ter sido a primeira vez que mostrei o meu portfolio a alguém influente no mercado bem como pela forma caricata como tudo aconteceu.
Tive somente meia hora para arranjar o portfolio e ir para Lisboa após uma chamada dum amigo meu a dizer que tinha lido num periódico que alguém da Marvel estava em Lisboa. Isto aconteceu em 2007.
O segundo momento-chave foi concretizar a ideia de ir estudar para um mercado influente bem como ter melhorado o meu nível de inglês. Isto foi ainda há relativamente pouco tempo, no verão de 2009, quando fui estudar para a Gnomon School em LA.
Para os mais desatentos, o que tens feito desde o lançamento do BRK?
Estou a colaborar com a Marvel regularmente desde Dezembro de 2009. Desenhei títulos já publicados como X-23, com Nuno Plati – outro português –, Iron Man, Ant-man e alguns projectos de publicidade com personagens como os Avengers.
Recentemente finalizei a minha última curta de 7 de Nomad, a sair em back up no livro do Capitan America desde o #608 ao #614.
Recentemente fui convidado pela Marvel a fazer outro outro título, Onslaugth Unleashed, com script de Sean Mckeever e cor de Ricardo Tercio. Neste caso serão 4 números totalmente desenhados por mim. O primeiro saiu em Fevereiro de 2010.
Integrei, também, a equipa portuguesa que foi convidado a colaborar com projecto City Stories para o Festival de Lodz, na Polónia, para o qual desenvolvi duas curtas com história de Filipe Pina em Saudade e Bartozs Sztybor em Blind Max.
Colaborei, para esta mesma publicação, com uma curta escrita pelo André Oliveira, ‘Uma história de Lobisomens’. Também estive em festivais como o de Angouleme, Lodz e NewYorkComicCon.
Sendo que hoje te movimentas maioritariamente no circuito internacional, qual a tua percepção dos universos da BD e da ilustração em Portugal?
É estranho estar a responder esta pergunta pois a minha actividade como profissional é ainda recente. Mesmo assim, posso afirmar que em Portugal existe muito talento e muita criatividade. Não só em Bd e ilustração mas como em todas as áreas criativas.
Existem mesmo muitos portugueses, pouco divulgados cá, mas que trabalham e ocupam cargos importantes nas mais diversas áreas e empresas no estrangeiro. Relativamente ao mercado nacional, são diversas as dificuldades como as insuficientes plataformas de divulgação bem como leitores para incentivar o comércio.
Isto, no entanto, não pode servir de desculpa para a desistência pois hoje em dia existem muitas outras oportunidades. Através da internet, o mercado tornou-se global. Sinto também que existem algumas rivalidades pouco produtivas e o bota abaixo continua a ser implacável quando alguém tenta fazer algo.
Acho que a nossa geração pode dar um chuto em tudo isso e dessa forma ser comum ver mais coisas publicadas em português não só cá como no estrangeiro.
E projectos para o Futuro?
Projectos são muitos e passam pela intenção de entrar no mundo do cinema e animação, mas isso não para já. No ano de 2011 posso adiantar que tenho como intenção acabar o segundo livro do BRK, tendo em mãos, até Abril, como referi atrás, o projecto do Onslauth Unleashed.
É minha intenção, também, estar presente no máximo de convenções internacionais possível para mostrar o meu trabalho e receber feedback e assim, poder alargar e diversificar os meus contactos. A primeira para a qual fui contactado é já em Fevereiro, a Miami Wizard Con.
Para saber mais acerca do trabalho do Filipe Andrade, visite o blogue do autor.
Esta entrevista também pode ser lida em Ave Rara
Filipe Andrade no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja de 2011...
BRK começou a ser pré-publicada no BDjornal #14 (Agosto 2006)
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Imagens da responsabilidade do Kuentro
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