Mantendo alguma fidelidade ao início da coisa, publico aqui, muito de vez em quando, matérias sobre comidas que vou fazendo.
E digo “comidas” (as que se cozinham, não as outras...) porque não trato aqui de culinária ou gastronomia, ou coisa que o valha mas que são, se calhar, abordagens diferentes da mesma coisa. No entanto, essas abordagens serão para os encartados, licenciados ou especilistas na matéria, cheios de tiques e de truques, aprendidos em escolas de hotelaria, ou outros sítios refinados. Adiante...
Tenciono agora, aos domingos, alternar entre posts sobre matérias mais mundanas, com o título genérico de “Kofi-Braike”, cujo segundo texto puderam ler aqui no passado domingo, e outros sobre comidas, a que chamarei “Kuentradas” – nada mais próprio, hem? Isto porque sempre pensei que a banda desenhada e a comida ligam muito bem, não vos parece? Pelo menos no modo como eu encaro esta tarefa de cozinhar: escolho as personagens e depois construo o argumento.
Mas primeiro, o bicho foi desmanchado (não cortado), retiradas as peles com gorduras excessivas e posto em repouso num banho com o sumo de dois ou três limões, três laranjas, duas limas e um copo de vinho tinto (normalmente temperam-se as carnes com vinho branco, mas eu não sou muito amigo dos “normalmentes”) e uns toques de tomate concentrado. Esta calda foi temperada com algumas malaguetas secas desfeitas, pimenta preta moída na altura (bastante), um nico de flor-de-anis reduzida a pó, um nico de curcuma (o açafrão-das-Índias), cinco ou seis alhos grandes picados, folhas de louro, um bom bocado de pimentão doce e o equivalente a meia colher de café, de sal. E... obviamente, um ramo de coentros picados - um dia destes ensino-vos a picar coentros sem cortarem os dedos...
Colocam-se os bocados do frango lá dentro e agita-se até ficar tudo bem misturado. Aconselho a que não se guardem as carnes a marinar dentro do frigorífico, mas num sítio fresco (no inverno qualquer sítio serve). No frigorífrico as carnes enrijam e não adquirem bem os sabores dos temperos.
Isto é uma maneira de temperar frangos como outra qualquer. Desde que me conheço, devo ter temperado frangos de quinhentas maneiras diferentes, senão, qual seria o interesse de cozinhar, sem fazer experiências?
Depois o bicharoco fica ali um ou dois dias, o tempo suficiente para construirmos o argumento: como é que vamos cozinhar este tipo? Com arroz? Batatas cozidas ou assadas? Pastas italianas? – Não digo batatas fritas porque só como batatas fritas nas poucas vezes que vou a restaurantes.
Pensei em fazer uma coisa diferente e pus-me a comprar legumes: beringelas, abóbora, cenouras, corgetes (ou courgettes), pimentos, batatas-doces, uma couve-flor, pimentos, um molho de grelos de nabo e foi o que se vê aqui em baixo:
Batatas doces e abóboras-menina (as melhores)
... pimentos e as beringelas...
... corgetes e couves-flor...
... grelos de nabo, que são cozidos à parte...
Um tabuleiro de ir ao forno (não aconselho os pirex), mas um anti-aderente ou, de preferência, de barro. Um tapete fino de azeite no fundo onde se estende um outro tapete de duas cebolas em rodelas desmanchadas. Depois vamos colocando os legumes, por ordem crescente dos tempos de cozedura: primeiro a abóbora cortada em bocados, a beringela, a corgete, as batatas doces, a couve-flor desmanchada, as cenouras cortadas e algumas batatas em rodelas.
Um bom bocado de coentros migados e alguns pimentos cortados em tiras, servirão de cama ao frangalho. Colocam-se os bocados do frango por cima disto tudo e, por cima dele, mais umas tiras de pimentos. Rega-se tudo com a calduça do banho do bicho..
A coisa pronta a ir ao forno...
E basta de paleio.
Boas comezainas!!!
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Apreciei muito o argumento, pois sinto ser a alma do que o meu amigo (ou qualquer de nós)consegue fazer com esse material. Prece-me que a personagem poderá ser qualquer outra, pois a história é que interessa. Se o forno fôr gráfico teremos uma saborosa edição bem temperada e quentinha, a avaliar pelas vinhetas que junta. Bom apetite, amigo Jorge machado Dias, poeque a mim já me contagiou.
ResponderEliminarHummm
José Ruy