quarta-feira, 12 de junho de 2013

IX FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA DE BEJA 2013 — LE GRAND FINALE NA CASA DA CULTURA DE BEJA — A SOLO (8 e 9): JEAN-CLAUDE MÉZIÈRES – JORGE GONZÁLEZ

Desenho do gato, de Susa Monteiro, claro...

IX FESTIVAL INTERNACIONAL
DE BANDA DESENHADA DE BEJA 2013
LE GRAND FINALE NA CASA DA CULTURA DE BEJA

A SOLO (8 e 9)

JEAN-CLAUDE MÉZIÈRES
JORGE GONZÁLEZ 
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JEAN-CLAUDE MÉZIÈRES
DESENHADOR DE UNIVERSOS FANTÁSTICOS
Pedro Cleto
No Splaft!

Se a banda desenhada franco-belga tem legado muitos autores de "uma obra só", poucos se poderão orgulhar de terem criado um universo tão delirante, fantástico e estimulante como os mundos que os agentes espácio-temporais Valérian e Laureline visitaram, mesmo que, em cerca de 40 anos de existência, apenas tenham protagonizado 21 álbuns... Que, no entanto, são (um)a marca indelével que Mézières — em estreita colaboração com o argumentista Pierre Christin – deixou na história das histórias aos quadradinhos.

Natural de Paris, França, onde nasceu a 23 de Setembro de 1938, Jean-Claude Mézières publicou as suas primeiras ilustrações com apenas 15 anos, no "Journal des Jeunes". Dois anos mais tarde entrava na École des Arts Appliquées de Paris, onde permaneceu quatro anos e conheceu alguém determinante na sua futura profissão: Jean Giraud. "Robin des Bois" (um argumento de J.-C. Adam, publicado em "Bonjour Phillippine"), "Fripounet et Marisette" ("Cœurs Vaillants") e "Première Crèche" (com Octave Joly, na "Spirou"), são as principais obras que desenhou enquanto estudava. De seguida afastou-se da banda desenhada, trabalhando com Giraud como ilustrador e, mais tarde, num estúdio de publicidade de um dos filhos de Jijé.

1965 encontra-o de partida para os Estados Unidos – onde, entre diversas actividades, chegou mesmo a ser... cowboy! Nessa terra, então de sonhos, perseguidos na mesma época, entre outros, por Goscinny, Jijé, Franquin ou Morris, encontrou um certo... Pierre Christin, seu amigo de infância, a quem convenceu a escrever-lhe um argumento para uma BD. Intitulada "Rhum du punch", marcaria a estreia da dupla, em 1966, na revista "Pilote" e abriria as portas a Mézières para desenhar argumentos de Fred, Reiser, Lob, Goscinny e... Christin.

O ano seguinte, 1967, seria de viragem, com a criação de "Valérian" (mais tarde “Valérian e Laureline", reconhecendo o papel, tantas vezes preponderante, que a protagonista feminina da série assumiu), cuja estreia aconteceu a 9 de Novembro, na "Pilote" #420, e a quem Mézières se dedicou a partir de então em quase total exclusividade.

Série maior de ficção-cienrífica, tendo por base valores como o pacifismo, o respeito e a igualdade entre sexos, raças e culturas, desenvolveria um dos mais originais universos que a banda desenhada já conheceu. Os seus protagonistas, agentes espácio-temporais ao serviço de uma metrópole futurista que um cataclismo haveria de fazer desaparecer, são levados a percorrer o espaço sideral e a visitar planetas fantásticos, maravilhosos ou assustadores, povoados de seres fascinantes e bizarros, e épocas diversas graças a saltos temporais, numa imensa busca de si próprios, do seu passado e do seu futuro.

Tudo revelado - para fascínio de gerações de leitores - pelo traço semi-realista, barroco, fluído, dinâmico e muito eficaz de Mezières, assente numa planificação multifacetada, rigoroso quanto baste na reconstrução de cenários reais do passado terrestre e credível e convincente na ilustração dos mundos imaginários e dos seus habitantes fascinantes e maravilhosos. Distinguido com o Grande Prémio de Angoulême, em 1984, Mézières tem no seu currículo igualmente a ilustração de duas outras obras de Christin, "Lady Polaris" e "Adieu, rêve americaine", a coordenação de "Canal Choc", série criada num estúdio que descobriu jovens talentos como Labiano, Aymond e Chapelle, surgindo como extras no seu percurso os selos de correio que ilustrou para as TAAF — Terras Austrais e Antárticas Francesas e a colaboração com Luc Besson, para quem criou os cenários e o táxi voador do filme "O quinto elemento".


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JORGE GONZÁLEZ
UM ARGENTINO, ENTRE O JAZZ E O TANGO,
DE REGRESSO AO PAÍS DO FADO
João Miguel Lameiras
No Splaft!

Nascido em Buenos Aires em 1970, Jorge Gonzalez reside em Espanha há mais de 15 anos, seguindo o caminho de vários compatriotas seus ligados à Banda Desenhada, como Juan Gimenez, Horácio Altuna e José Munoz. Foi em Sitges, uma praia perto de Barcelona, onde morou até se fixar em Madrid, que González conheceu Horácio Altuna, importante desenhador argentino e colaborador habitual de Carlos Trillo, que face ao talento de González, não resistiu a escrever uma história para ele ilustrar. Uma sórdida história de amor entre uma prostituta e um chulo, que descobre que o amor e a morte vêm muitas vezes juntos, ao ver-se compelido a matar todos os que se aproximam da mulher que não escolheu amar e que se tornou numa verdadeira obsessão. Uma obsessão que irá levar à sua perda. Um verdadeiro drama de faca e alguidar, que daria um óptimo fado... ou um tango, e que Altuna e González transformam numa excelente álbum de Banda Desenhada. Um álbum, Hard Story, que a Vitamina BD editou em Portugal em 2001, quase em simultâneo com a edição original espanhola.

Com um estilo caricatural, que lembrava um pouco o Miguelanxo Prado de Quotidiano Delirante, González, para além de um grande à vontade no tratamento fisionómico das personagens, revelava ainda uma notável técnica na utilização da grafite, conseguindo transmitir uma grande luminosidade a uma história negra, contada exclusivamente em tons cinza. Os seus trabalhos seguintes, para além da óbvia evolução do seu estilo e da descoberta da cor, evidentes em Mendigo, uma história que Carlos Jorge escreveu para Gonzalez, revelam um autor que vê na música e em especial no jazz, uma grande fonte de inspiração. O título da sua segunda colaboração com Altuna, Hate Jazz, fala por si, mas se dúvidas houvesse, Jazz Song, a curta-metragem de animação que escreveu e dirigiu em 2007, em que recupera várias imagens de Hate Jazz, dissipá-las-ia.

Tal como dois ilustres compatriotas seus, Munoz e Sampayo, diziam em relação à Nova Iorque das aventuras de Alack Sinner, também as grandes cidades dos seus livros, eram uma espécie de "Buenos Aires traduzida" e a história e a cultura argentinas vão estando cada vez mais presentes no trabalho deste autor.

O ponto de viragem dá-se com Fueye, obra que lhe valeu o prémio FNAC/Sins Entido em 2008 e que foi editada em França com o título Bandoneon, nome de um instrumento musical que remete obviamente para o tango. Essa história sobre a emigração espanhola para a Argentina no início do século XX, em termos gráficos revela uma crescente evolução do estilo de González, com o traço esboçado a lápis, a ser "vestido" por um excelente trabalho cromático, em que às afinidades estéticas com Mattotti e De Crecy, se junta a do malogrado Ricard Castells, sem que isso retire personalidade ao seu grafismo único.

No seu mais recente trabalho, Dear Patagonia, editado originalmente em Espanha em 2011, González regressa mais uma vez às suas origens argentinas, para contar uma história épica centrada na Patagónia, entre os finais do século XIX e o início do século XXI. Uma região que, conforme confessa "sempre foi um mistério para mim. E um lugar vazio, muito grande, cheio de história e de mistério e que também sofreu com as invasões dos Europeus. Quis reflectir isso, como a Patagónia mudou, como se transformou e perverteu".

É esse autor, cuja obra está marcada pelos sons do Jazz e do Tango, que agora regressa a Portugal (o país do Fado, que foi dos primeiros países a publicar a sua obra de estreia), exactamente 10 anos depois de assinar a ilustração do cartaz do 1º (e único) BD Fórum, um Festival de Banda Desenhada, realizado em Lisboa, em Maio de 2003, que contou com Jorge González como um dos autores convidados.


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