segunda-feira, 17 de junho de 2013

JOBAT NO LOULETANO (116-117) — FERNANDO BENTO (1 e 2)


NONA ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(CXVI - CXVII)

O Louletano, 10 de Dezembro de 2007

CAROS LEITORES

Temos o grato prazer de publicar nesta secção um trabalho do grande mestre da ilustração portuguesa, Fernando Bento. A sua presença artística, cujo traço ágil e simultaneamente belo, quase diríamos lírica, foi constante ao longo de várias décadas do século passado, com destaque para o suplemento do jornal "O Século Pim-Pam-Pum!", e as revistas "Diabrete", "Cavaleiro Andante", "João Ratão, Alvoz e Foguetão", entre muitas outras publicações juvenis. Agradecemos a sua esposa, dona Arlete Bento, a gentileza da sua permissão em trazermos ao público de hoje, um trabalho desse grande artista falecido em 16/09/1996, outro tanto fazemos a António Dias de Deus e Leonardo de Sá – cujos textos já conhecidos dos nossos leitores têm enriquecido esta coluna – autores da resenha biográfica, "Fernando Bento, O Magnata do Petróleo" que acompanha a banda desenhada ora iniciada, um clássico da literatura infantil do grande escritor inglês Óscar Wild, "O Príncipe Feliz". O respectivo texto foi respigado do álbum, "Fernando Bento / Uma Ilha de Tesouros", editado pela Bedeteca de Lisboa, a quem agradecemos.

Aos admiradores da arte de Fernando Bento, e aos que porventura o desconhecem, no caso concreto os mais jovens, uma muito boa leitura.

Jobat
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FERNANDO BENTO
O MAGNATA DO TEATRO E DO PETRÓLEO – 1
por
ANTÓNIO DIAS DE DEUS e LEONARDO DE SÁ 

Há várias etapas na vida profissional do desenhador de his­tórias aos quadradinhos e ilustrador de livros infantis Fernando Bento, por vezes sobreponíveis umas às outras.

O título em epígrafe apenas resume o princípio e o fim das suas funções plásticas. Fernando Trindade Carvalho Bento nasceu em Lisboa, na praça das Flores, a 26 de Outubro de 1910.

Ouçamos o próprio desenhador:

"Desde os três anos passei a frequentar o Coliseu dos Recreios de Lisboa, porque o meu pai era empregado de Ricardo Covões [director da empresa]. Muitas vezes assisti aos ensaios, quer nos bastidores quer na plateia, e foi-me desde logo familiar o martelar dos carpinteiros e o corrupio das coristas. O meu pai não era um grande pintor, mas eu deliciava-me a vê-lo pintar com uma brocha atada na ponta duma cana, fossem os grandes cenários, ou os grandes cartazes. Criei-me no espectáculo do teatro de revista."

Cedo se iniciou nas artes gráficas, tendo aprendido desenho apenas por um curso por correspondência francês 'ABC', por sinal bastante sério, pois o aluno enviava os desenhos e o monitor fazia as críticas e indicava as opções. No caso de Fernando Bento o prognóstico saiu certíssimo, pois lhe apontaram como via o desenho decorativo e narrativo.

Na altura do Black-bottom e do charleston, o Coliseu dos Recreios proporcionava concursos de maratonas de dança para os participantes se estafarem. Fernando Bento desenhou imagens fugidias desse delírio, que chegaram a ser expostas no hall do Coliseu. Mais tarde, o artista passaria à classe de figurinista e ce­nógrafo de super-produções como "A Última Maravilha" e "O Fim do Mundo". E, neste caso, o espectacular é que os críticos de todos os quadrantes jornalísticos destacaram em primazia a arte do novel figurinista, então com 25 anos.

Os resultados surgiram, em breve, com as revistas já citadas, mais os carta­zes gigantescos, os figurinos, as ilustra­ções de crónicas de teatro e de desporto. Fiquemos aqui, por enquanto.

O magnata do jornalismo, que é a segunda etapa, começou modesta­mente em inícios dos anos 30, com caricaturas em Coliseu, em Os Sports (antepassado de A Bola), e prossegui­ria mais adiante com várias sátiras desportivas e as críticas teatrais do Diário de Lisboa. »»

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O Louletano, 17 de Dezembro de 2007


FERNANDO BENTO
O MAGNATA DO TEATRO E DO PETRÓLEO – 2
por
ANTÓNIO DIAS DE DEUS e LEONARDO DE SÁ 

Particularmente, para aquilo que nos interessa, foi na República – secção infantil, suplemento do jornal República, em 1938, que Fernando Bento publicou as suas primeiras histórias aos quadradinhos – as quais, curiosamente, versavam geralmente temas desportivos.

Portanto, o artista entrou a desenhar HQ com a maturidade suficiente que já lhe tinha sido concedida pela carreira de figu­rinista teatral, caricaturista teatral e desportivo, desenhador de capas de folhetins de cordel, enfim um artista completo.

Tinha então 28 anos, o traço era decidido e seguro, os modelos estavam todos na sua cabeça. Nunca usou modelos vivos, estipendiados, porque nunca precisou.

As formas inventou-as, os movimentos estavam todas na sua memória de menino-espectador do Coliseu dos Recreios. É espantoso, ou antes nada espantoso, que a arte de Fernando Bento não tivesse seguido outro caminho senão o da pureza formal e cénica.Em 1941, dois acontecimentos vão suscitar-lhe a mais ampla expansão de fabricante de histórias aos quadradinhos que ja­mais algum artista portu­guês teve, e, pelo rodar da carruagem, ninguém mais ultrapassaria.

A primeira reviravolta foi o assenhorea­mento gráfico do Pim-Pam-Pum!, suple­mento infantil do jornal O Século, de parceria com o artista Mário Costa, com o qual algumas ­vezes o seu traço desse período se confunde, dado o esquematismo das linhas e o intercalar nas mesmas séries.

No Pim-Pam-Pum!, Fernando Ben­to permanecerá durante perto de 20 anos. Se muitos desenhos são apressados e pouco detalhados, algumas obras-primas também lá se encontravam. »»
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Desejamos a todos os leitores, bem como a quantos têm cola­borado na parte artística e literária desta página, nomeadamente A. Dias de Deus, A. J. Ferreira, Carlos Alberto, Dâmaso Afonso, Jorge Magalhães, José Antunes, José Garcês, José M. Vilela, José Pires, José Ruy, Leonardo De Sá, familiares de Eduardo T. Coelho e Fernando Bento, um Santo Natal e Próspero Ano Novo 2008. A todos eles, um muito obrigado.

Jobat

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Em baixo: Capa da revista "Diabrete", n° 595, saída em 12 de Março de 1949 
onde inicial­mente se publicou a história "O Princípe Feliz". 



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