sábado, 7 de janeiro de 2012

BDpress #312: O RELATÓRIO DE GILLES RATIER, DA ACBD, SOBRE O MERCADO FRANCÓFONO DA BD EM 2011


Público, 6 Janeiro 2012

EDIÇÃO FRANCÓFONA 
16 ANOS SEMPRE A CRESCER

NOVO RECORDE DE EDIÇÕES EM 2011, 
COM MAIS EDITORES NO MERCADO 
E AUTORES A PUBLICAR AS SUAS OBRAS. 
A BANDA DESENHADA PARECE IMUNE À CRISE. 
ATÉ QUANDO?

Carlos Pessoa

Pelo décimo sexto ano consecutivo, a banda desenhada (BD) francófona europeia bate recordes. Publicaram-se 5327 títulos em 2011, o que representa mais 3,04 por cento do que no ano antecedente. O número de editores passou de 299 para 310 e a quantidade de autores que viram obras suas publicadas foi de 1.749, contra os 1.689 em 2010.

O relatório de Gilles Ratier sobre o Mercado da BD em 2011, elaborado por uma equipa de especialistas no âmbito da Associação de Críticos e Jornalistas de Banda Desenhada, confirma que o sector da edição de banda desenhada continua de boa saúde, não parecendo afectado pela crise mais geral do negócio do livro nem posto em causa pela irrupção do livro digital.

As novidades absolutas publicadas em 2011 foram 3.841, das quais 221 títulos consistem em criações com mais de 20 anos que nunca tinham sido compiladas em álbum. As bandas desenhadas estritamente franco¬belgas têm a parte de leão nesse volume de edições, com 1.632 títulos publicados (42,49 por cento), seguindo-se as séries "asiáticas" (1520 novas obras de BD japonesa, coreana e afins, o equivalente a 39,57 por cento). Os romances gráficos e outros livros experimentais (386) e as bandas desenhadas americanas (303) ocupam os restantes lugares.

O ano passado, assistiu-se a um reforço da concentração empresarial, com quatro grupos a dominarem o sector (representam 43,6 por cento do total). O grande acontecimento do ano foi a aquisição das Éditions Soleil pelas Guy Delcourt Productions, fazendo destas últimas o segundo mais importante grupo editorial e o primeiro independente do sector. A Delcourt passou a ser também o maior produtor de álbuns (840). No entanto, o grupo Média-Participations (Dargaud, Dupuis, Le Lombard, Kana, Blake et Mortimer, Lucky Comics, etc., num total de 775 títulos) permanece o mais importante no plano económico, com um volume de negócios sempre em crescimento. O terceiro grupo editorial, já sem a sua extensão espanhola, é a Glénat, com 469 títulos publicados em 2011. No quarto lugar está o grupo y t Flammarion (Casterman, Audie/Fluide Glacial e J'ai Lu), com 226 títulos.

Os chamados "valores seguros" — 99 séries com tiragens superiores a 50 mil exemplares — contribuem substancialmente para os bons resultados obtidos e representam o essencial do negócio. As dez "locomotivas" de 2011 foram as séries XIII (tiragem de 500 mil exemplares), Kid Paddle (360 mil), Boule et Bill (253 mil), Thorgal, Kid Lucky (ambas com 220 mil), XIII Mistery (200 mil), Cédric (170 mil), Les Légendaires (170 mil), Lanfeust Odyssey e Les Nombrils (ambas com 160 mil).

As traduções de obras estrangeiras desceram no ano passado (2.043 novas obras, contra 2.094 em 2010). A maioria são asiáticas (1.494), com as provenientes dos EUA a grande distância (364). Em contrapartida, o chamado "sector patrimonial" (reedições de clássicos) está em plena expansão: 1058 novas edições, compilações ou edições integrais, por oposição às 980 no ano anterior.

Resistir ao livro digital

Há outros indicadores que ilustram a expansão do sector. É o caso dos acontecimentos em torno da BD (festivais, exposições, etc.), que "nunca foram tão numerosos", diz Gilles Ratier: 455 em 2011, contra 351 no ano anterior. Também a pré-publicação em revistas especializadas ou na imprensa generalista tem como consequência uma óptima exposição da banda desenhada nos quiosques.

Os autores do relatório destacam, a concluir, que "apesar de a fileira do livro estar em mutação, a BD francófona tem sabido adaptar-se aos sobressaltos da economia e à chegada das novas tecnologias". O público do livro digital é "ainda muito reduzido" (apenas 5%), dizem. E embora a digitalização do livro "pareça irreversível, este fenómeno é refreado por uma forte ligação ao formato [do livro] e por um fenómeno geracional: o grande leitor de livros ainda não é digital native".

A superprodução e a resistência às profundas mutações do mercado são as duas características da edição francófona de BD postas em destaque por Didier Pasamonik, chefe de redacção do site ActuaBD. Os primeiros "sinais de turbulência" começam a manifestar-se, com algumas livrarias históricas especializadas a fecharem ou reduzirem a sua presença.

Outras, porém, aumentam o seu número de pontos de venda, como é o caso da FNAC.

Ainda é cedo para ter uma ideia de como se comportou o sector em termos de volume de negócios, mas Pasamonik refere que "o ambiente de marasmo favorece os produtos clássicos": "Os livreiros, tal como o público, são impressionados pela crise financeira e, confrontados com uma oferta superabundante, têm tendência para se refugiar nos valores seguros." A saída do filme de Spielberg-Jackson acentuou esta tendência relançando as vendas das aventuras de Tintin, "uma banda desenhada tipicamente intergeracional em França".

Esta linha tenderá a aumentar de forma sustentada, prevê Pasamonik. Segundo este especialista, tal fenómeno "traduz uma maturação do mercado". Exprime ainda a "vontade dos editores favorecerem os títulos do respectivo catálogo com maior margem [de lucro], pois essas obras já estão amortizadas há muito tempo".

Do lado dos autores, a situação não é tão risonha. O crescimento do número de autores editados (superior a 25%, nos últimos dois anos) significa para o consumidor uma diversidade de escolha acrescida.

O reverso da medalha é uma agudização da concorrência entre criadores para chegar ao mercado. Apenas 1.487 autores conseguem viver, em muitos casos com dificuldade, da criação de banda desenhada.








 


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Imagens da responsabilidade do Kuentro

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