domingo, 20 de janeiro de 2013

COM O ZÉ DAS PAPAS (15) – O BOLO REI




BOLO REI

Gazeta das Caldas, 19 de Janeiro de 2013

Ainda sob a influência do Natal, deixo hoje alguns apontamentos sobre o Bolo Rei, o sucessor português do “gâteau des Rois” francês.

Le Gâteau des Rois 

É um bolo tradicional da Epifania [do grego: Ἐπιφάνεια, : "a aparição”], ou seja do dia festivo da Igreja Católica, que comemora a adoração dos Reis Magos a Jesus.

Uma das suas originalidades é a escolha, à sorte, de um «rei» ou de uma «rainha», graças à fava introduzida na massa do bolo.

Este ritual/escolha parece remontar à época romana, às festas em honra de Saturno.

A Saturnália ocorria no mês de Dezembro, no solstício de inverno, celebrada no dia 17 de dezembro, ao longo dos tempos alargada à semana completa, terminando a 23 de dezembro.

Tinham início com grandes banquetes e sacrifícios. Por ocasião dos festejos subvertia-se a ordem social, os escravos eram, temporariamente, homens livres e elegia-se, à sorte (daí a fava), um príncipe – espécie de caricatura da classe nobre – a quem se entregava todo o poder.

Saturnálias, mosaico romano.

Saturno era um deus romano. O seu culto foi importado da Grécia para Roma, como ocorreu com diversos outros deuses. Teria sido expulso do Olimpo por Zeus tendo-se instalado no Capitólio [Capitolium em latim, ou Campidoglio em italiano actual, uma das sete colinas de Roma]. 

A colina do Capitólio, com o templo de Júpiter em destaque (na imagem, pormenor da maqueta da Roma antiga - Museu de Roma). Actualmente é a praça do Campidoglio - desenhada por Miguelangelo e tendo ao centro uma cópia da estátua equestre do imperador Marco Aurélio - que domina a colina, rodeada por três palácios.

A partir da Idade Média a Igreja associou o bolo à Epifania e atribuiu-lhe também um “valor acrescentado”, o do pão benzido e repartido, mas a tradição do rei “eleito” ficou.

Houve tempos, nas provincias francesas, em que o bolo era cortado segundo um rito preciso, com canções e cortejos de crianças em busca de ofertas.

Com a revolução francesa surgiram tentativas, frustradas, de substituir o “gâteau des Rois” por um “bolo da igualdade e da liberdade” repartido no decurso de uma “festa da boa vizinhança”.

Actualmente são duas as grandes tradições no que toca ao ”gâteau des Rois”: no norte, em Lyon e na região parisiense é um bolo folhado, coberto por frangipana (ou seja pastel de nata e amêndoas pisadas), perfumado com almíscar e outros aromas enquanto, no sul é um bolo em massa de brioche, guarnecido com frutas cristalizadas, perfumado com aguardente ou flor de laranjeira (coroa em massa de brioche da Provença ou d’Auvergne, “gâteau des Rois” de Bordéus ou de Limoux, perfumado com cidra, etc.). A fava, essa, é substituída por uma figurinha de porcelana.

 Couronne des Rois 

 Galette des Rois (folhado)

Brioche des Rois

Em Portugal o primeiro estabelecimento onde se vendeu terá sido em Lisboa, na Confeitaria Nacional, fundada em 1829 na Praça da Figueira.


A Confeitaria Nacional e os bolos rei, prontos a serem vendidos...

O filho do fundador, Baltasar Rodrigues Castanheiro Júnior, parece ter sido o responsável pela aparição do bolo rei.

No Porto sabe-se ter surgido na última década do século XIX, na confeitaria Cascais, na Rua de Santo António.

Actualmente há quem prefira o Bolo Rainha ao Bolo Rei. A massa é a mesma, uma massa de pão levedada, mas no Bolo Rainha não se usam frutas cristalizadas, usam-se apenas as passas/sultanas e aumenta-se a quantidade de frutos secos.

Bolo Rainha
João Reboredo 

Nota: As frases entre parentesis rectos [...] são acrescentos do editor do Kuentro que não constam do texto original.




 Bolo Rei folhado 

Bolo Rainha

Bolo Rei confeccionado com farinha integral

 Bolo Rei salgado - ou manjar dos Reis

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