9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(XLII - XLIII)
É com redobrado prazer que hoje iniciamos a publicação de uma BD ilustrada por Carlos Alberto, a última por si realizada, a qual tem por base um argumento de Jorge Magalhães. Inserimos também deste autor, um texto sobre o ilustrador, com a resenha da sua produção nesta área. Sobre ambos - ilustrador e argumentista - nome e obra dispensam comentários.
O título e legendagem desta BD é da autoria de Catherine Labey.
Estamos pois, editor, coordenador e leitores de parabéns pelo texto e prosa hoje dados à estampa. Endereçamos aos respectivos autores, e a quantos tornaram possível a sua publicação, o nosso muito obrigado. JB
PS: A série "A Maldição Branca", terminada na passada semana, foi inicialmente publicada n' "O Mosquito" entre os números 932, de 29/05/ 1948, e 941, de 30/06/ do mesmo ano. As nossas desculpas pelo lapso.
CARLOS ALBERTO
UM PINTOR QUE COMEÇOU NA BD – 1
por Jorge Magalhães
Embora Carlos Alberto Santos seja mais conhecido como pintor de reais méritos, pertence-lhe, de pleno direito, um lugar na BD portuguesa. Não pelo número (escasso) das suas obras mas peios aotes reveiaaos aesae o inicio.
Com uma carreira dividida entre a ilustração e a pintura, talvez Carlos Alberto nunca imaginasse que esse punhado de histórias aos quadradinhos viria a ser tão apreciado.
Curiosamente, um dos seus últimos trabalhos em banda desenhada – uma biografia da vida aventurosa de Camões, misturando história e lenda, ficção e realidade – é considerado a sua obra mais perfeita, tendo sido reeditada em 1990 pelas Edições Asa, com a nota inédita da cor, dada pelo próprio artista.
Mas recuemos ao princípio da carreira de Carlos Alberto como desenhador: foi em 1948, no Camarada (1a série) - quando já trabalhava no atelier de publicidade de José David que o seu traço nítido e firme, ao mesmo tempo dinâmico e harmonioso, se tornou notado; primeiro em ilustrações soltas, a prova de ensaio para trabalhos de maior vulto, depois numa HQ intitulada O Escudo do Sarraceno, que confirmou em absoluto as precoces qualidades reveladas. Saliente-se que Carlos Alberto tinha, nessa altura, apenas 16 anos.
Foi uma estreia auspiciosa, mas o Camarada estava à beira da suspensão, pelo que d'O Escudo do Sarraceno só se publicaram dezasseis páginas, em que a faceta de ilustrador já se impunha à técnica da narração figurativa.
Aliás, Carlos Alberto confessa abertamente: «Não me considero um desenhador de BD, pois a minha obra, além de curta e sem continuidade, é desconexa em técnica. Mas à BD devo a experiência e os conhecimentos – o movimento das figuras, por exemplo - que me permitem, hoje, fazer um certo tipo de pintura.»
Depois do Camarada veio o Mundo de Aventuras, editado pela Agência Portuguesa de Revistas, em cujos quadros Carlos Alberto iria ter participação activa, não só como desenhador de histórias aos quadradinhos, mas também fazendo ilustrações, arranjos gráficos, capas de livros e colecções de cromos.
Entre essas HQ conta-se a História Maravilhosa de João dos Mares, publicada no Mundo de Aventuras a partir do n° 1 (14/8/49), e assinada com a insígnia do estúdio de José David, que na altura funcionava como secção de desenho da Fotogravura Nacional. Mas entre essa história e a seguinte, intitulada Ousadia Triunfante e dada à estampa também no Mundo de Aventuras, decorreram cerca de seis anos.
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CARLOS ALBERTO
UM PINTOR QUE COMEÇOU NA BD – 2
por Jorge Magalhães
Nesse ínterim, Carlos Alberto - além de realizar para outra editora uma adaptação em quadradinhos do filme Tarzan e a Escrava, publicada em forma de livro - executou uma colecção de cromos que ainda hoje é relembrada e constituiu um dos mais retumbantes êxitos da Agência Portuguesa de Revistas: a História de Portugal. Com sucessivas reedições, rapidamente esgotadas, essa colecção – que aliava a beleza gráfica ao interesse lúdico e didáctico – foi o trampolim para outras de igual nível, como Trajos Típicos de Todo o Mundo e História de Lisboa, que firmaram definitivamente os créditos de Carlos Alberto como um ilustrador e pintor de invulgar talento.
Nem por isso a BD ficou pelo caminho. Após Ousadia Triunfante, outras histórias se seguiram, num ritmo bastante regular, embora com diferenças marcantes de qualidade e de estilo: A Espada Nazarena, O Combate de Pembe, O Santo Condestável, O Capitão Bravo (todas no Mundo de Aventuras) e O Infante Santo (na Colecção Audácia) – em que é patente a formação clássica de Carlos Alberto e o seu interesse pelos temas históricos –, além de Os Fidalgos da Casa Mourisca, em oito fascículos, palavrosa adaptação da obra de Júlio Dinis, a que o seu autor não dá especial apreço, mas que hoje é um regalo para os coleccionadores.
Foram 20 anos ao serviço da Agência Portuguesa de Revistas, onde também trabalhavam, entre outros, José Baptista e José Antunes; vinte anos de um trabalho febril, exaustivo, fazendo HQ, cromos, e doses maciças de ilustrações e capas para livros e revistas, algumas das quais - como as da série em formato pequeno do Mundo de Aventuras, com uma técnica entre o desenho e a pintura tiveram uma grande aceitação e ainda hoje ocupam lugar honroso ao lado das que E. T. Coelho ilustrou para O Mosquito.
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A FILHA DO REI DE NÁPOLES
Jorge Magalhães (argumento) e Carlos Alberto (desenhos)
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As imagens seguintes foram retiradas do Catálogo da Exposição-Homenagem a Carlos Alberto, na Casa Roque Gameiro, realizada de 22 de Outubro a 6 de Novembro de 2005, comissariada por Leonardo De Sá e integrada no XVI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
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