segunda-feira, 14 de maio de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XLIV e XLV) – CARLOS ALBERTO – UM PINTOR QUE COMEÇOU NA BD (3 e 4) – por Jorge Magalhães


Capa do Mundo de Aventuras nº723


9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(XLIV - XLV)

O Louletano, 1 a 7 de Fevereiro 2005 

CARLOS ALBERTO – UM PINTOR QUE COMEÇOU NA BD – 3 

por Jorge Magalhães 

Antes de se desligar da Agência Portuguesa de Revistas, Carlos Alberto realizou ainda algumas excelentes colecções de cromos com temas históricos: Camões, Romeu e Julieta e Pedro Alvares Cabral, além de uma quarta que nunca chegou a aparecer nas ban­cas: Os Três Mosqueteiros. Melhor sorte teve a história de Robin dos Bosques, dada à estampa muitos anos depois no magazine de domingo do Correio da Manhã, com textos de Artur Varatojo.

Em 1971, embora ainda pertencesse aos quadros da Agência, Carlos Alberto começou a colaborar com a Portugal Press de Roussado Pinto, sob o pseu­dónimo de M. Gustavo (inspirado no nome do seu compo­sitor favori­to, Gustav Mahler). Foi então que o seu talento de pintor atingiu o auge, com a série de qua­dros sobre a História de Portugal pu­blicados em separata pelo Jornal do Cuto. O rigor da for­ma e a bele­za da cor um pouco prejudicada pela impressão do jomal – confirmavam em absoluto a vitória do pintor sobre o desenhador. Carlos Alberto rendia-se à cor e as imensas possibilidades que a pintura (e só ela) lhe dava na exteriorização da sua verdadeira personalidade artística.

O caminho estava traçado. Mas, teimosamente, um certo «bi­chinho» obrigava-o, de vez em quando, a voltar à BD. Foi assim em 1969 – com uma curta história sobre Vasco da Gama: O Almirante das Naus da Índia, publicada no Pisca-Pisca e em 1972, aquando da comemoração do 4º. centenário dos Lusíadas, com Camões – Sua Vida Aventurosa, a que o Mundo de Aventu­ras dedicou duas edições simultâneas: um nú­mero especial c uma versão reduzida.

O Camões de Carlos Alberto tem os traços fulgurantes do aventureiro e do épico, do estu­dante boémio e do poeta, do apaixonado e do trágico. Um retrato à escala humana e heróica, com destras pinceladas de um bem doseado re­alismo, realçando o equilíbrio plástico e a matu­ridade do artista, no estilo clássico e romântico que caracteriza a sua obra; uma excelente BD, em suma, tanto no plano gráfico como de ficção histórica, que é unanimemente considerada o melhor (de longe) trabalho de Carlos Alberto neste domínio  – mas também o seu «canto de cisne», o seu adeus quase definitivo a uma Arte que não o satisfazia plenamente.

 Capa e Página da colecção de cromos Trajos Típicos de Todo o Mundo

Prancha de O Combate de Pembe no Mundo de Aventuras nº 367
Imagem recolhida no blogue Fanzines de Banda Desenhada, de Geraldes Lino
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O Louletano, 9 a 14 de Fevereiro 2005 

CARLOS ALBERTO – UM PINTOR QUE COMEÇOU NA BD – 4 

por Jorge Magalhães 

Depois disso, a sua carreira foi dedicada quase exclusivamente à pintura e à ilustração para diversas editoras, sendo de referir al­guns marcos, como as capas realizadas para a série Júlio Verne, da Europa-América, e para a revista Zakarella, da Portugal Press – com uma vertente erótica que fez sonhar muitos adolescentes –, bem como a colorida girândola de ilustrações – em que os mais diversos temas são retratados com dinamismo, emoção, beleza, espiritualidade, humor e fantasia – para uma novela histórica de Roussado Pinto: Vasco Duro, o Indomável, a série Cinco Brancos e um Preto, de Alice Ogando, e As Histórias do Avozinho e A Vida de Jesus, dos Amigos do Livro, com textos de Raul Correia.

Quanto à pintura, são inúmeras as exposições no currículo do artista, efectuadas tanto em Portugal como no estrangeiro (Espanha e Estados Unidos), com assinalável êxito. Os seus quadros, tendo frequentemente por tema a História de Portugal – pois é com as nossas raízes que ele se sente mais identificado – despertam o inte­resse dos museus e dos coleccionadores particulares. Há longos anos que Carlos Alberto viu, enfim, realizado o seu grande sonho: viver, a tempo inteiro, de e para a pintura.

Mas a homenagem que a memória dos leitores há muito lhe devia, consubstanciada na publicação em álbum de Camões - Sua Vida Aventurosa, conseguiu ainda reavivar, entre as cinzas do passado, uma faúlha adormecida. Refiro-me à história A Filha do Rei de Nápoles, que estamos actualmente a publicar e que foi realizada por Carlos Alberto em 1992, num breve intervalo que conseguiu roubar a mais aliciantes tarefas, por sugestão do autor destas linhas e de Francisco Linhares, das Edições ASA.

Nesses momentos de raro entusiasmo e vibração quase juvenil, tive oportunidade de conviver mais de perto com o artista que tanto admirava desde os tempos do Camarada e do Mundo de Aventuras, pois escrevi o guião desta história, destinada ao 4º. volume da colecção Contos Tradici­onais Portugueses em BD, com o título Contos das Ilhas, em que também participaram José Garces, Eugénio Silva e Catherine Labey. Magnifica­mente ilustrada, ela demonstra que Carlos Alberto, no apogeu da sua carreira como pintor, se destacava ainda pelo contraste figurativo do preto e branco e o vigor e a elegância das linhas. Pois é a preto e branco que esta história se publica agora pela primeira vez, sem que a ausência da cor lhe retire o menor mérito. Foi este, aliás, até agora (parafraseando o próprio artista), o seu último trabalho "a tinta da china".

Como vai longe o tempo em que um jovem aprendiz, formado na dura escola da vida  –  Carlos Alberto começou o seu percurso profissional aos 10 anos, na Bertrand & Irmãos!  – , sonhava com as histórias em quadradinhos, sem imaginar a que píncaros o guindariam esses sonhos e a beleza das formas e das cores que se albergavam no seu espírito criativo. ■



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A FILHA DO REI DE NÁPOLES - PRANCHAS 3 e 4
Jorge Magalhães (argumento) e Carlos Alberto (desenhos) 



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