Vinheta de Kumalo, de Jorge Magalhães (argumento) e Augusto Trigo (ilustrações)
NONA ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(CXXVI – CXXVII)
O Louletano, 10 de Março de 2008
AUGUSTO TRIGO (2)
por: Leonardo De Sá
Por essa época realizou um importante quadro para o Banco Nacional da Guiné-Bissau, mais tarde reproduzido numa nota de dinheiro de governo. Fixou-se definitivamente em Portugal em Setembro de 1979. Tendo começado tarde a desenhar comics com uma primeira HQ no Mundo de Aventuras (5ª Série) em 1980, a sua produção depressa se alargou – nomeadamente Mundo de Aventuras Especial, Tintin, Quadradinhos (2ª Série), Jornal da BD – contando com títulos muito sólidos: “A Sombra do Gavião”, "O Visitante Maldito", "Luz do Oriente", "Wakantanka", "Excalibur", "Kumalo" (para a 5ª série de O Mosquito), etc., em histórias curtas ou publicando em álbuns, na Editora Futura, Edições Internacionais, Meribérica/Liber, Edições ASA (nomeadamente a série das Lendas de Portugal, que vinha sendo publicada no Jornal do Exército), com argumentos de Jorge Magalhães. Foi um dos participantes na BD colectiva "Maria Jornalista", com duas pranchas por autor, no Noticias Magazine do Diário de Noticias e Jornal de Noticias de 9 de Janeiro a 13 de Março de 1994.
É colaborador regular da revista Montepio. Tem executado igualmente muitas ilustrações e capas para diversos suportes, livros e revistas. Dedica-se ainda à publicidade. ■
Augusto Trigo finalizando a prancha 3 de A Luz do Oriente (ver esta prancha mais abaixo)
Páginas de Kumalo, em "O Mosquito", 5ª série, nº 1, Abril de 1984
_____________________________________________________________
O Louletano, 17 de Março de 2008
AUGUSTO TRIGO (3)
por: José Batista
Os dias decorriam monótonos e pachorrentos na então província Portuguesa da Guiné. Nesse pacífico recanto de África, nos idos de 1945, os últimos estertores da II guerra mundial mal se faziam ouvir, e muito menos à pequenada entretida nas brincadeiras que esse lugar ermo dispunha. A metrópole ficava longe, mas para Eugénio Maria Trigo, pai de Augusto Trigo, miúdo de 7 anos na altura, as notícias chegavam sem demora, pois era funcionário dos CTT na cidade de Bissau, capital da província.
Para os adultos, a caça era o natural entretenimento dos colonos, normalmente noite adentro, e raramente sós, não tanto por necessidade mas por mero prazer, e também pelas emoções que tal desporto, embora perigoso, proporcionava. Em casa, D. Irene Pereira Rodrigues Trigo, a mãe dos três filhos do casal, Armando, Manuel e Augusto, grávida na altura, atenta, cuidava da pequenada.
Embora longe da metrópole, os colonos transpunham para onde iam os hábitos e costumes da pátria natal, inclusive os jogos e brincadeiras a que se tinham habituado, passando-os aos seus filhos. Estes entretinham-se a jogar à bola de trapos, feita com uma meia, a brincar com o arco, a fazer carrinhos de tara, (miolo da folha de palmeira), ou a imitar os "cóbois" que os cinemas ambulantes projectavam (só que aqui cada um levava a sua própria cadeira), entre outros jogos inocentes próprios dessa época. Embora na Guiné os entretenimentos disponíveis fossem escassos, a imaginação e a habilidade manual própria dos miúdos supriam as necessidades, servindo-se daquilo que o meio oferecia.
Pouco afeito às letras e aos números, o jovem Augusto, o mais novo dos três irmãos, ocupava o seu tempo com um passatempo favorito que o deliciava, mas que sua mãe não apoiava de todo, pois não gostava de ver as paredes riscadas a carvão. Porém, alheado a tudo isso, as formas e as cores enchiam os olhos do garoto, bastando-lhe um graveto queimado da lareira e algum naco de parede caiada para vazar, ainda que toscamente, as formas que povoavam a sua infantil imaginação.
Ao contrário de sua mãe, o pai admirava a facilidade com que o garoto garatujava os bonecos, os rabiscos que lhe saiam das mãos. Então, aconselhado por sua irmã, também ela ligada às artes, e para evitar males maiores, ofereceu ao filho uma caixa de lápis de cor, talvez o melhor presente que alguém lhe podia dar na altura. Utilizando-os a partir daí, as paredes foram poupadas à febril criatividade do jovem candidato às artes visuais, transpondo para um novo suporte, o papel, o conteúdo que lhe enchia a alma. »»
Quelé-Fabá, história inédita inacabada, ilustrada por Augusto Trigo em 1992,
baseada numa lenda da Guiné, depois do seu regresso definitivo a Portugal.
_____________________________________________________________
LUZ DO ORIENTE
(2 e 3)
Jorge Magalhães (argumento), Augusto Trigo (ilustrações)
(continua...)
_____________________________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário