Luís Infante de Lacerda de Sttau Monteiro (Lisboa, 3 de Abril de 1926 - Lisboa, 23 de Julho de 1993)
Visto por André Carrilho
O "Zé das Papas", de Raphael Bordallo Pinheiro
ZÉ DAS PAPAS - 29
ISTO DO PREÇO E DA QUALIDADE...
ATRAVÉS DE STTAU MONTEIRO
in Gazeta das Caldas, 9 de Agosto de 2013
Grande conhecedor de gastronomia, fez crítica sob vários pseudónimos e teve, na RTP, um programa sobre o tema. Como Manuel A. Pedroso, escreveu na revista Banquete, nº 155, em Janeiro de 1973, na secção melga no prato, um artigo que, volvidos 40 anos continua, infelizmente, actual.
Respigo, aqui e ali, algumas linhas.
"Em toda a parte do mundo há restaurantes caros e restaurantes baratos. Servem os primeiros para quem atribui muita importância ao que come, para quem tem o dinheiro necessário para luxos, para quem apresenta no escritório a notinha das despesas e por último, para quem deseja celebrar um evento qualquer tirando a barriga das misérias a que todos, mais ou menos, estamos condenados por falta de numerário. Servem os restaurantes baratos para o quotidiano de quem tem de comer fora de casa, e mesmo, para as celebrações de quem não tem dinheiro para mais.
O que acontece porém, em toda a parte do mundo menos neste recanto paradisíaco em que vivemos é que aos altíssimos preços pedidos nos restaurantes caros corresponde um serviço excepcional, uma lista que vale a pena estudar, e normalmente, uma cozinha requintada assente no conhecimento de magníficas receitas, e na preparação cuidada de todos os pratos. A regra em Portugal, é o patrão aprender todos os argumentos que justificam os altos preços dos restaurantes caros estrangeiros e esquecer que a esses preços corresponde, no estrangeiro, um serviço e uma cozinha excepcionais...".
"Come-se muitíssimo mal neste jardim à beira mar plantado, que já se equiparou, em matéria de preços, aos «melhores estrangeiros», situação para a qual concorre o facto destes restaurantes serem frequentados por uma quantidade imensa de gente ligada à famigerada actividade que dá pelo nome genérico de «public relations» e que, por ignorância e outros motivos, tende a considerar se bem servida desde que a «notinha das despesas» seja suficientemente elevada para deslumbrar o cliente.
O que vale é que na sua grande maioria as pessoas que frequentam este tipo de restaurantes não se utilizam deles para encher o estômago deleitando o paladar, mas sim para serem vistos, para se impressionarem uns aos outros e para «se sentirem civilizados». Optam, ao comer, pelo critério com que compram livros: comem pelo som estrangeiro dos pratos e compram livros pela riqueza das encadernações. Como não lêem os livros que compram nem sabem se os nomes dos pratos que pedem correspondem ao que lhes põem à frente, saem cheios, felizes e muito «dans le vent».
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
Sttau Monteiro
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