segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

JOBAT NO LOULETANO – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (144-145) – AUGUSTO TRIGO NA PISTA DE UM SONHO (6 e 7) por José Batista


O Louletano, 28 | Julho | 2008

NA PISTA DE UM SONHO – 6
Por José Batista

Os anos de permanência na Casa Pia, e bem assim os trabalhos que executou na Fábrica de Fermentos Holandeses e na agremiação recreativa na Cruz Quebrada, deram a Augusto Trigo um traquejo artístico que o deixou apto a enfrentar um diversificado leque de tarefas no campo da ilustração, pintura e trabalhos manuais. Ainda que sem o curso que faria jus às reais capacidades de que era dotado – tal como a frase publicitária dos Licores Mala-Posta: "A fama que vem de longe!" – a aptidão de A. Trigo precedeu-o ainda antes da sua chegada de regresso à província da Guiné, em 1958.

Em 1973, com o 25 de Abril ainda em banho-maria, o Padre Macedo ensaiava nesse torrão lusitano em terras de África um grupo de jovens estudantes, muitos dos quais seus alunos na disciplina de moral no Liceu Honório Barreto, onde leccionava. As peças teatrais

que o sacerdote encenava, umas cómicas, outras históricas, eram exibidas no palco da colectividade UDIDE, uma sala de cinema – a úni­ca na província – com capacidade e palco para apre­sentar espectácu­los teatrais. Esta colectividade também orga­nizava festas de Natal e fim de ano nas quais Augus­to Trigo colabo­rava pintando os cenários.

Habitual­mente os cenários para as peças que o grupo do Padre Macedo apresentava eram pintados por um artista com mais vocação para os copos do que para os pincéis, e por vezes o excesso etílico ingerido interferia negativamente na pontualidade e qualidade artística dos panos de fundo que executava. Certa feita, perante os transtornos que os seus atrasos originavam bem como pelo fraco nível profissional de que dava provas – pois que em vez de reforçar convenientemente a parte de trás do papel cenário em que estes eram pintados, evitando que pela fragilidade se rasgassem, apenas lhes colava umas simples tiras do mesmo papel – alguém alvitrou o nome do artista que há anos tinha vindo da metrópole. »»

Caçador "Felupe". Ilustração de Augusto Trigo re­tratando um costume local feita na Guiné em 1967.

"Ilustração do meu livro, único exemplar e original, com o título "sábado das 8h às 12h", dedicado aos colegas da Repartição dos Serviços de Agrimensura da Guiné. Livro nunca editado e da minha colecção pessoal." A. Trigo

Vinhetas da série humorística inédita e inaca­bada, " A Vaca Sagrada de Mulei Molusco", ilustrada por Augusto Trigo na Guiné, em 1965.

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O Louletano, 4 | Agosto | 2008

NA PISTA DE UM SONHO – 7
Por José Batista

Posto a par da situação criada pelo cenarista excessiva­mente cultor de Baco, Augusto Trigo disponibilizou-se e passou a partir daí a colaborar com o sacerdote e o seu grupo de jovens alunos adeptos da arte de Talma nos múltiplos espectáculos que ensaiava e exibia na UDIDE, como na passada semana referimos.

As Forças Armadas destacadas para a defesa dessa pro­víncia ultramarina também contaram com a sua participação artística na feitura de grandes painéis para as festas organi­zadas pelo Capelão Militar com elementos do próprio meio castrense, inclu­sivamente tam­bém pintando cenários para os espectácu­los que vez por outra apresenta­vam nessa sala de cinema.

Reconhe­cendo as poten­cialidades do ar­tista Guineense, o reitor do Liceu Honório Bar­reto convidou-o para dar aulas de trabalhos manu­ais na Escola Preparatória Marechal Car­mona, as quais ele transformou nas mais apete­cíveis e preferidas dos alunos entre todas as outras que esse estabelecimento de ensino ministrava. O êxito de tal iniciativa originou, após a independência da Guiné, a extensão das suas actividades para as aulas de desenho, área que sobejamente dominava, demonstrando que não reside apenas no apetecido e oficial "canudo" a ca­pacidade pedagógica de quem quer que seja para ensinar, mas sim na prática profissional demonstrada com base nas faculdades inatas correctamente educadas. Conheci pessoal­mente muitos finalistas da António Arroio – no meu tempo Escola de Artes Decorativas – que nunca passaram de medíocres empre­gados de escritório, enquanto que outros com apenas a antiga quarta classe... Mas isso já é uma outra história! »»

Desenho a lápis, de Augusto Trigo, retratando o costume local de uma mulher "Fula" dando banho ao seu filho, feito na Guiné em 1967.

Ilustração feita na Guiné, em 1960, alusiva ao "castigo" que o be­névolo Director da Secção Pina Manique, da Casa Pia, Dr. Fer­nando de Oliveira Martins, aplicava aos alunos encontrados com "beatas" nos bolsos: fumar charutos... porém nunca mais de dois!

Vinhetas da série humorística inédita e inaca­bada, " A Vaca Sagrada de Mulei Molusco", ilustrada por Augusto Trigo na Guiné, em 1965.
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Augusto Trigo

Paisagem, pintura de Augusto Trigo. Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO.

Uma das faces da nota de 1000 pesos (Guiné-Bissau) – pintura de a.trigo - 1977.

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