O "Zé das Papas", de Rafael Bordallo Pinheiro
ZÉ DAS PAPAS NA GAZETA DAS CALDAS (39-40)
Gazeta das Caldas, 13 de Dezembro de 2013
TRADIÇÃO DE NATAL, QUE AINDA RESISTE
Estamos em tempo de Natal, tempos difíceis para muitos dos nossos concidadãos, e lembrei-me das escolhas para a Consoada, de Álvaro Cunqueiro Mora, que nasceu em Mondofiedo, na Galiza, a 22 de dezembro de 1911 e veio a falecer em Vigo, a 28 de fevereiro de 1981 e sobre quem já escrevi algumas linhas. Escritor e cronista de enorme talento e sucesso foi o maior gastrónomo galego.
As escolhas de Cunqueiro nós, especialmente os do Norte vizinho, também as fazemos.
É o tema de hoje: o Capão, que, já em tempos, de vida contida, era prato de Natal.
O eleito de Cunqueiro era o de Vilalva, Villalba de Lugo, das aldeias próximas de Xermade e de Noche, de San Juan de Alba e de Goiriz, cujas gentes acode puntual com os seus capóes em dezanove de Dezembro na feira villalbesa.
O dos nossos concidadãos é o de Freamunde, que a AderSousa - Associação de Desenvolvimento Rural das Terras do Sousa, divulga, e cujo saber me serve de guião.
Feira do Capão de Freamunde
Maria Fernanda Alves da Costa tem 73 anos e mora em Covas, Lousada e é das vendedoras de capões mais antigas da tradicional Feira de Santa Luzia que voltou a levar milhares de pessoas a Freamunde em 2013
O Capão de Freamunde, de Paços de Ferreira, é um frango de crescimento lento, da raça Gallus Domesticus, castrado antes de atingir a maturidade sexual e que se destina exclusivamente à produção de carne. O acto de capar remonta ao tempo dos Romanos. Parece que o Cônsul Caio Cânio, que não conciliava o sono por causa do cantar dos galos, fez aprovar uma lei impeditiva da sua existência em Roma. Mas houve quem teimasse em usufruir da carne dos galos, capando-os. O capão, ultrapassa em beleza, tamanho e sabor, o galo macho. O destino casto concede ao animal um ar triste e envergonhado, mas torna-o gordo, opulento. A textura, suculencia e sabor, dão, à carne do Capão de Freamunde uma qualidade ímpar, cuja fama se prolongou ao longo de gerações e justifica a popularidade e fama da feira dos capões que se realiza em Freamunde a 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia. A instituição oficial verificou-se em 1719, por provisão de D. João V; mas já alguns séculos antes a prática de capar frangos e de os comercializar era tradição na "freguesia de Salvador de Friamunde de honrra de Sobrosa, Concelho de Aguiar de Souza, Comarca do Porto...". Estudiosos indicam-no como costume medieval, de que há notícia em documentos do Séc. XV, muito antes da citada provisão, e que, no fundo, visava a sua legalização e a defesa dos interesses da Confraria de Santo António, em cujo terreiro as feiras se realizavam e das quais pretendia auferir proveitos. O melhor da feira, e que lhe trouxe fama e popularidade, é o imenso mercado de aves. Se o capão é o rei da festa, o peru – que à feira também ocorre em numerosos bandos – é a sua vistosa e majestosa corte. Este enorme arraial de emplumados empresta à feira um generoso e inigualável colorido, o que a torna no mais alegre e garrido cartaz de quantas manifestações populares do género se podem fruir na região de Entre-Douro-e-Minho. Não admira, pois, que milhares de forasteiros ocorram, nesta ocasião, a Freamunde vindos de todo o Portugal e até de Espanha, sobretudo da vizinha Galiza.
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
Começo por endereçar aos que me vão lendo desejos de um 2014 com paz, saúde e... a felicidade possível.
joaoreboredo@gmail.com
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Gazeta das Caldas, 27 de Dezembro de 2013
RÉVEILLON
Começo por endereçar aos que me vão lendo desejos de um 2014 com paz, saúde e... a felicidade possível.
Embora muitos o saibam, lembrei-me de "pôr os pontos nos ii", quanto ao significado do título destas linhas.
O Réveillon significa, nos nossos dias, a festa em que se esconjura o ano (velho e muitas vezes chato, que nos trouxe tristezas e sofrimento) e incorpora o nosso firme desejo e esperança em que melhores dias nos esperam.
É claro que me atenho à palavra, já que a prática – como em tempos escrevi nestas páginas – vem de antanho e os registos gregos e romanos são abundantes e explicativos q.b..
Réveillon foi o nome dado à refeição tomada na noite de Natal, que, por extensão, se "transferiu" para a da passagem do Ano.
Vamos por partes: A palavra teria a sua origem em"re-veiller ", isto é começar uma nova velada ou seja refeição.
Como escreveu Grimod de La Reyniere, no Almanach des gourmands esta refeição foi imaginada para os fiéis recuperarem as forças, cansados de uma cerimónia litúrgica, longa de quatro horas, com os seus louvores corais ao Senhor, as longas homílias da circunstância e o caminho de ida e volta à Igreja.
Hoje, o réveillon é, especialmente, ocasião de um bom convívio, em família ou entre amigos.
O réveillon está associado a ementas especiais, propositadamente confeccionadas e pode dizer-se que o réveillon de São Silvestre representa a extensão laica da Consoada.
Nestas, como noutras ocasiões gastronómicas, a França ocupa o lugar de topo com refeições em que, tradicionalmente se servem (ou serviam, na pré-crise...) ostras – das quais as mais apreciadas são as portuguesas – Champagne, foie gras, lavagante, etc.
A refeição termina invariavelmente com as "treze sobremesas de Natal", número que recorda os treze convivas da última Ceia de Cristo.
Por mera curiosidade deixo-Ihes alguns exemplos de iguarias servidas na Europa.
Na mesa dos Ingleses é obrigatório o Christmas Pudding.
É claro que me atenho à palavra, já que a prática – como em tempos escrevi nestas páginas – vem de antanho e os registos gregos e romanos são abundantes e explicativos q.b..
Réveillon foi o nome dado à refeição tomada na noite de Natal, que, por extensão, se "transferiu" para a da passagem do Ano.
Vamos por partes: A palavra teria a sua origem em"re-veiller ", isto é começar uma nova velada ou seja refeição.
Como escreveu Grimod de La Reyniere, no Almanach des gourmands esta refeição foi imaginada para os fiéis recuperarem as forças, cansados de uma cerimónia litúrgica, longa de quatro horas, com os seus louvores corais ao Senhor, as longas homílias da circunstância e o caminho de ida e volta à Igreja.
Hoje, o réveillon é, especialmente, ocasião de um bom convívio, em família ou entre amigos.
O réveillon está associado a ementas especiais, propositadamente confeccionadas e pode dizer-se que o réveillon de São Silvestre representa a extensão laica da Consoada.
Nestas, como noutras ocasiões gastronómicas, a França ocupa o lugar de topo com refeições em que, tradicionalmente se servem (ou serviam, na pré-crise...) ostras – das quais as mais apreciadas são as portuguesas – Champagne, foie gras, lavagante, etc.
A refeição termina invariavelmente com as "treze sobremesas de Natal", número que recorda os treze convivas da última Ceia de Cristo.
Por mera curiosidade deixo-Ihes alguns exemplos de iguarias servidas na Europa.
Na mesa dos Ingleses é obrigatório o Christmas Pudding.
O Christmas Pudding
Em Itália, o panpepato, originário de Ferrara, é o doce convidado do réveillon de São Silvestre, mas cada terra tem seu uso.
O Panpepato
La Nocciala
La cassata de ricotta e chocolate
A carpa alemã
Certos alimentos mantêm-se tradicionais, como as maçãs, as nozes e as amêndoas - sendo as primeiras o símbolo da árvore do Conhecimento, e os frutos secos, com casca, símbolo das dificuldades da existência.
O réveillon sueco foi indissociável da língua marinada e fumada, servida em molho branco com manteiga, batatas, mostarda e pimenta preta, costume de vários séculos. Hoje, dá-se mais relevo, como aliás na Dinamarca ao pato recheado com maçã e ameixas secas, assado e guarnecido com couve roxa, batatas caramelizadas e molho de mirtilhos; uma espécie de arroz doce ou o arroz com amêndoas coberto de compota de cerejas constituem a sobremesa habitual.
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
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