MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (161-162)
O Louletano, 19 | Janeiro | 2009
JESUS BLASCO – O PAI DE “CUTO” (2)
Por José Batista
A "FABRICA" DOS QUADRADINHOS
O quartel-general do clã Blasco estava situado numa torre de três pisos, na Calle Castellterçol, num bairro residencial perto da ponte de Vallcarca, na zona norte de Barcelona.
Ali, Jesus Blasco e os seus irmãos Adriano, Alejandro e Pilar, todos artistas por mérito próprio, colaboravam na produção de inúmeras histórias para editores de vários países, sob a assinatura comum de J. Blasco.
Cuto, Anita Pequenita, Garra de Aço e Los Guerrilleros foram os mais populares das dezenas de personagens que criaram para encanto dos leitores europeus.
UM VIRTUOSO DA TINTA-DA-CHINA
Os frequentadores de exposições, festivais e salões de Histórias aos Quadradinhos estão habituados a ver expostos os originais dos desenhos, executados habitualmente, ao dobro do tamanho da reprodução impressa.
Tal se deve a que, ao reduzir o original, por processos fotográficos, o traço fica mais fino, os pormenores ganham uma maior perfeição.
A película assim obtida é gravada numa chapa, que fica pronta a imprimir.
Nos tempos difíceis que se seguiram à Guerra Civil de Espanha, a escassez de materiais de reprodução gráfica obrigou os desenhadores espanhóis a esboçar as suas páginas a lápis, em papel comum, ao tamanho da reprodução, e depois decalcar a tinta-da-china, em papel vegetal, que encarquilhava se aplicassem grandes manchas de tinta, e não permitia correcções: qualquer engano obrigava a refazer todo o trabalho. O desenho em papel vegetal era passado directamente à chapa. Isto durante dezenas de anos...
Jesus Blasco era um virtuoso e trabalhava exclusivamente a pincel, até na letragem das legendas.
O FIM DA AVENTURA
Este grande artista catalão faleceu em Barcelona no dia 21 de Outubro de 1995.
Durante a sua longa carreira foi homenageado com inúmeras distinções entre as quais o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras da França, o troféu "Yellow Kid", de Lucca, Itália, o "Mosquito", do Clube Português da Banda Desenhada, o Prémio Diário de Avisos de 1977 e outros... »»
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O Louletano, 26 | Janeiro | 2009
JESUS BLASCO – O PAI DE “CUTO” (3)
Por José Batista
Com um pedaço de giz, o miúdo de quatro anos desenhou na parede a imponente estrutura metálica.
Ao ver o desenho, o pai compreendeu que o filho tinha o futuro traçado nas artes plásticas.
Blasco nunca estudou Belas-Artes; foi completamente auto-didacta.
Era muito versátil. Tendo, de início, sido influenciado pelo estilo Disney, evoluiu rapidamente para um desenho realista, quase fotográfico.
Além do desenho humorístico e realista, também dominava a cor, realizando magníficas ilustrações e capas de livros e revistas, a guache e aguarela.
Foi também, durante muito tempo, o seu próprio argumentista, casando sabiamente texto e desenho.
Nas horas vagas (?!) Blasco dedicava-se à pintura de cavalete e à escultura, tendo como tema preferido a figura feminina.
A experiência do mestre catalão como autor de histórias aos quadradinhos esteve na origem de um livro didáctico, concebido em colaboração com o editor e também artista José María Parramón. "Como Dibujar Historietas" foi publicado em 1966, em Barcelona e teve numerosas reedições, em diferentes colecções.
OS "QUADRADINHOS" EM GUERRA
Com a Europa devastada e a sofrer os horrores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) as restrições de tráfego e comunicações faziam com que as provas das histórias aos quadradinhos americanas, em publicação nos jornais infantis europeus tivessem, por vezes, dificuldades em chegar a tempo.
Na Bélgica, por exemplo, E. P. Jacobs, o celebrado criador de Blake e Mortimer, teve de inventar e desenhar uma conclusão para um episódio do Flash Gordon de Alex Raymond, por não terem sido recebidas no jornal as respectivas provas, enviadas da América.
Acresce que os heróis americanos não colhiam as simpatias dos regimes dominados pelos nazis que viam (com razão...) nessas histórias elementos de propaganda anti-nazi, pois muitos personagens foram "mobilizados" para combater Hitler e os seus aliados, tais como Flash Gordon, Tarzan, o Capitão América e até o Príncipe Valente, no século VI entrou em campanha contra os hunos! »»
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