terça-feira, 29 de abril de 2014


VISÃO
REVISTA DE BANDA DESENHADA PORTUGUESA
1975-1976
(1)

Hoje, o CNBDI promove o seu habitual Encontro Às Quintas Falamos de BD, que não se realizou na quinta-feira passada devido às comemorações dos 40 Anos do 25 de Abril, sendo transferido para esta terça-feira - 29 de Abril. O tema do Encontro é precisamente sobre a Visão. Daí que venha a propósito começarmos a comemorar aqui no Kuentro o 40º aniversário da revista Visão - Para uma nova Banda Desenhada Portuguesa, cujo primeiro número saiu a 1 de Abril de 1975 (dia das mentiras, pois claro), pretendendo nós que esta comemoração se prolongue, mensalmente, por todo o ano até 1 de Abril de 2015.

A revista Visão (1975-76) foi o primeiro projecto colectivo de autores de BD portuguesa com material quase exclusivamente português, tendo em conta as possibilidades estéticas e não apenas um produto para consumo de um público infanto-juvenil. Faziam parte da equipa inicial da Visão o director Vítor Mesquita, Zé Paulo, Pedro Massano, Carlos Barradas, Carlos Zingaro entre muitos outros. A Visão afirmou-se como a mais significativa e influente revista de BD portuguesa. Os dois anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, foram anos conturbados, mas dinâmicos e estimulantes do ponto de vista editorial.

Aqui fica a primeira parte do texto de Geraldes Lino, de 2005, publicado no seu blogue Divulgando Banda Desenhada, cuja publicação original pode ver-se AQUI – e também o Nº3 da VISÃO – em CÓPIA INTEGRAL (o único exemplar que possuímos desta revista).
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VISÃO 
REVISTA DE BANDA DESENHADA PORTUGUESA 
(1) 
Por Geraldes Lino 

Foi há trinta e nove anos, contas redondas, que surgiu a revista "Visão" [a 1 de Abril de 1975]. A capa apresentava o subtítulo: "Para uma nova Banda Desenhada Portuguesa", que constituía a finalidade programática dos seus mentores e colaboradores.

Lançada em 1 de Abril de 1975, prometia sair nos "dias 1 e 15 de cada mês", ou seja, a periodicidade previa-se quinzenal. Apresentava-se em formato tipo B4 [23x32cm], em papel "couché" de elevada gramagem, com capa e contracapa a cores, enquanto o miolo, constituído por 36 páginas, alternava umas a cores [20] com outras a preto-e-branco [no caderno central de 16 págs.].

No conjunto dos apenas doze números publicados, a "Visão" constituiu uma "pedrada no charco", pelo estilo gráfico e conteúdo ficcional que nada tinha a ver com a banda desenhada a que se estava habituado nas revistas portuguesas.

O desenho da capa do nº1 - uma imagem relacionada com a bd Matei-o a 24 - estava identificado por Mesquita, nome (mais propriamente, apelido) que se repetia no cabeçalho da página três, ao lado do título Eternus 9 - Regresso do Nada, mas agora já se apresentando com o nome próprio: Victor.

Esta obra, que ficaria incompleta no conjunto dos doze números, apresentava-se em três pranchas sem palavras, suficientes para revelar um estilo que impressionava pela imaginação e beleza dos pormenores, além de se basear numa ficção com algo de esoterismo.

Victor Mesquita foi um dos autores importantes da "Visão", embora também já fosse conhecido dos leitores da revista "Mundo de Aventuras", onde debutara.

Entretanto, nesse número inicial da novel revista, apareciam os primeiros colaboradores sob nomes ou pseudónimos que a maioria dos bedéfilos desconhecia: André, "Zepe", Zé Paulo, Carlos Barradas, e os argumentistas "Vícaro", Machado da Graça e Carlos Soares. Mas o traço e a ficção desses desconhecidos iriam gradualmente ganhando apreciadores, e vários entre eles iriam ter obras publicadas posteriormente.

André, por exemplo, tornar-se-ia conhecido a seguir pela personagem Tónius, o Lusitano, mas aqui iniciava-se com uma série humorística, a cores, que continuaria em números seguintes, intitulada Gemadinha, o herói de Pedras Baixas, sob argumento de "Vícaro" (pseudónimo de Victor Mesquita). Esta mesma dupla assinava outra bd, em apenas duas páginas, a preto-e-branco, sob o título Imundus, uma estranha alegoria.

Na página onze podia ler-se uma apresentação sob o título "Diálogo para uma nova Banda Desenhada", assinada pelas iniciais M.G. (Machado da Graça).

"Zepe" (pseudónimo ainda hoje usado por José Pedro Cavalheiro) criava um "gag" numa só prancha, a preto e branco.

Zé Paulo (José Paulo Simões) assinava Abril Águas Mil, episódio humorístico que deixava espaço para, em rodapé, apresentar a ficha técnica, onde aparecia o nome de Victor Mesquita como director, e os de Machado da Graça, José Maria André, Pedro, Nobre, Carlos Barradas, Artur Tomé, Mário António Martins e C. Soares, como colaboradores.

Clave sem Sol, banda desenhada a preto-e-branco, tinha autoria de Carlos Barradas e Carlos Soares. A qualidade dos desenhos de Barradas era absolutamente excepcional, apoiados por ficção invulgar de um ainda hoje desconhecido Carlos Soares.

Victor Mesquita, com diversificado talento e participação repetida, surge de novo no mesmo exemplar de estreia, a desenhar mais outra obra em entregas parciais, titulada Matei-o a 24, sob argumento de Machado da Graça, e em cujo conteúdo se basearia para criar uma ilustração para a capa, como já foi dito anteriormente.

As três primeiras pranchas apresentadas nesse número, a cores, mostravam o início do episódio passado em Lisboa, tendo como protagonista um homem novo, Eduardo, traumatizado por cenas ocorridas na guerra colonial. Trata-se, neste caso, de uma banda desenhada que se apresenta em estilo realista, bem conseguido.

Os Loucos da Banda, desopilante episódio em seis pranchas, a cores, escrito e desenhado por Zé Paulo, ecléctico e prolífico, e talvez também o mais "louco" entre todos os autores que se revelaram na "Visão".

Este número histórico iniciava uma fase totalmente diferente na banda desenhada portuguesa, revolucionando-a tanto ao nível temático como estilístico.

Nota: Os parentesis [] contêm acrescentos do editor do Kuentro, para clarificar algumas questões.

(Continua...)
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