terça-feira, 22 de abril de 2014

JOBAT NO LOULETANO – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (163-164) – JESUS BLASCO – O PAI DE “CUTO” (4) + CUTO – HERÓI DE UMA GERAÇÃO (1)


O Louletano, 2 | Fevereiro | 2009

O PAI DE CUTO - 4
Por José Batista

Em "Tragédia no Orien­te" uma aventura de Cuto, Blasco retrata um regime autoritário e faz uma subtil alusão ao bombardeamento da aldeia de Guernica, pela aviação nazi, a pedido de Franco, exterminando deze­nas de habitantes, incluindo mulheres e crianças. A censura fascista não se apercebeu da subtil referência...

Também em Espanha faltaram duas páginas do Flash Gordon, em publicação no semanário Leyendas.

Jesus Blasco foi solicita­do a colmatar a falha, o que fez nos números 160 e 161, concluindo o episódio, com o seu reconhecido profissionalismo, embora não fosse Alex Raymond a sua referência, no que respeitava às histórias aos quadradinhos.

Livro didáctico ilustrado por Jesús Blasco, do qual houve, em 1974, uma edição em português (Brasil), que teve distribuição em Portugal - apenas em Lisboa. A informação sobre esta edição portuguesa foi-nos fornecida por Leonardo De Sá já depois deste post ter sido editado. 

O seu modelo foi Milton Caniff, o genial criador de "Terry e os Piratas" e "Steve Canyon" (sem esquecer "Miss Lace") que, com a cumplicidade de outro talentoso cria­dor, Noel Sickles (autor de "Scorchy Smith") introduziu nos "quadra­dinhos" processos narra­tivos inspirados nas téc­nicas cinematográficas, tais como a variação de planos, caracterização e expressão dos persona­gens e no desenho um maior realismo, com a introdução de sombras e silhuetas e a valoração do tratamento em claro-escuro.

Cuto em "O Caso dos Rapazes Desaparecidos" 

A INTERNACIONALIZAÇÃO

Em 1954, Jesus Blasco iniciou a sua colaboração com a editora inglesa Fleetway. Buffalo Bill, Billy the Kid, Robin Hood, Dick Turpin e Rob Riley foram alguns dos personagens que desenhou, além de clássicos da literatura e histórias curtas.

O maior sucesso só chegou com " Garra deAço" (The Steel Claw), a história de um vilão convertido em herói, publicada na revista Valiant de 1962 a 1973, com argumentos de Tom Tully.

Os editores ingleses raramente permitiam que os artistas assinassem os seus trabalhos, no entanto, para Jesus Blasco, abriram uma excepção, aceitando que, nos seus desenhos, o artista incluísse a sua assinatura.

Outra demonstração do apreço que lhe dedicavam é o facto de que, quando o catalão se deslocava a Londres, para reuniões com os editores, estes enviavam um luxuoso Rolls-Royce, com motorista fardado, recolhê-lo no aeroporto, para o conduzir à Fleetway House, em Farringdon Street.

CHARLAS & COPAS

Nos anos 80 do século passado, Jesus Blasco foi, por várias vezes, presidente da comissão organizadora do Salón del Cómic de Barcelona.

O mestre catalão era um anfitrião caloroso para os "peregrinos" portugueses: artistas, argumentistas, coleccionadores, fans e cronistas que se deslocavam ao festival, eram depois acolhidos na privacidade da mítica torre dos Blasco, ocasião ideal para animadas charlas e reconfortantes copas. »»

 
Cuto em "Tragédia no Oriente" 

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O Louletano, 9 | Fevereiro | 2009


Quando eu tinha os meus cinco anos, já lia (ou melhor, soletrava) jornais infantis. Nesse tempo, publicava-se em Portu­gal um jornal de pequeno formato, O Mosquito, que, devido ao módico preço de capa (cinco tos­tões) e às aventuras que inseria, se tornara bas­tante popular. Com uma tiragem semanal capaz de fazer inveja à dos seus confrades mais recen­tes (60.000 exemplares, aproximadamente), O Mosquito ocupava uma posição privilegiada entre as publicações da época, apesar do seu reduzido número de páginas e da fraca qualidade do papel em que era impresso.

Essa popularidade atingiu o auge quando começou a publicar, no n° 508, de 6/5/1944, as aventuras de Cuto, um pequeno herói de cabelo ruivo e rosto cheio de sardas, corajoso, perspicaz e ágil como um gato. Cuto era uma criação do jovem artista espanhol Jesús Blasco, que iniciou a sua carreira aos 14 anos — como já foi referido nesta rubrica —, depois de ter sido premiado num concurso de desenhos organizado pela revista Mickey.

Pequeno, desenvolto, inteligente, com um agudo sentido de observação e reflexos prontos como o raio, Cuto não tar­dou a tornar-se o maior ídolo dos rapazes portugueses desse tempo, que vibravam com as suas aventuras e desejavam em segredo imitá-lo, identificando-se facilmente com aquele rapaz tão humano, tão pare­cido com eles, que nada tinha de um super-herói, "um rapaz como qual­quer outro (como escreveu o críti­co espanhol Luis Gasca), embora vivesse aventuras excepcionais e experiências que normalmente es­tavam vedadas aos rapazes da sua idade, conduzindo com mão segura lanchas a motor, aviões e velozes automóveis desportivos".

Capa de "O Mosqui­to" n° 508, início das historietas do Cuto

Mais popular ainda do que Tintin — que, ao tempo, se publicava n'O Papagaio —, Cuto foi o ídolo, o herói indiscutível de uma geração, que ainda hoje o recorda com emoção e saudade. Após um eclipse que durou vários anos — entretanto, Blasco começou a trabalhar para Inglaterra, criando outras personagens que lhe deram mais fama e dinheiro, como o misógino Garra de Aço —, Cuto voltou a ressurgir em Portugal, numa revista que herdou até o seu nome: o Jornal do Cuto, meritória iniciativa de Roussado Pinto, homem a quem a história da Banda Desenhada no nosso país muito deve.

Exemplo de vocação precoce, Blasco tomou para modelo de Cuto o seu irmão Alejandro, a quem todos em família tratavam por essa carinhosa alcunha. Cuto e os seus amigos Gurripata y Camarilla formavam uma pandilha de garotos travessos que apareceu pela primeira vez nas páginas de uma pu­blicação chamada Boliche. Mais tarde, abandonando a faceta cómica, Blasco iniciou uma nova etapa da sua carreira no semanário Chicos, editado em San Sebastian, do qual viria a tornar-se, ao longo dos anos, um dos mais apreciados colaboradores. »»

Capa do 1° número do "Jornal do Cuto" 

  


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CUTO EM NÁPOLES (4 e 5)


(Continua..)

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