O Louletano, 2 | Fevereiro | 2009
O PAI DE CUTO - 4
Por José Batista
Em "Tragédia no Oriente" uma aventura de Cuto, Blasco retrata um regime autoritário e faz uma subtil alusão ao bombardeamento da aldeia de Guernica, pela aviação nazi, a pedido de Franco, exterminando dezenas de habitantes, incluindo mulheres e crianças. A censura fascista não se apercebeu da subtil referência...
Também em Espanha faltaram duas páginas do Flash Gordon, em publicação no semanário Leyendas.
Jesus Blasco foi solicitado a colmatar a falha, o que fez nos números 160 e 161, concluindo o episódio, com o seu reconhecido profissionalismo, embora não fosse Alex Raymond a sua referência, no que respeitava às histórias aos quadradinhos.
Livro didáctico ilustrado por Jesús Blasco, do qual houve, em 1974, uma edição em português (Brasil), que teve distribuição em Portugal - apenas em Lisboa. A informação sobre esta edição portuguesa foi-nos fornecida por Leonardo De Sá já depois deste post ter sido editado.
O seu modelo foi Milton Caniff, o genial criador de "Terry e os Piratas" e "Steve Canyon" (sem esquecer "Miss Lace") que, com a cumplicidade de outro talentoso criador, Noel Sickles (autor de "Scorchy Smith") introduziu nos "quadradinhos" processos narrativos inspirados nas técnicas cinematográficas, tais como a variação de planos, caracterização e expressão dos personagens e no desenho um maior realismo, com a introdução de sombras e silhuetas e a valoração do tratamento em claro-escuro.
Cuto em "O Caso dos Rapazes Desaparecidos"
A INTERNACIONALIZAÇÃO
Em 1954, Jesus Blasco iniciou a sua colaboração com a editora inglesa Fleetway. Buffalo Bill, Billy the Kid, Robin Hood, Dick Turpin e Rob Riley foram alguns dos personagens que desenhou, além de clássicos da literatura e histórias curtas.
O maior sucesso só chegou com " Garra deAço" (The Steel Claw), a história de um vilão convertido em herói, publicada na revista Valiant de 1962 a 1973, com argumentos de Tom Tully.
Os editores ingleses raramente permitiam que os artistas assinassem os seus trabalhos, no entanto, para Jesus Blasco, abriram uma excepção, aceitando que, nos seus desenhos, o artista incluísse a sua assinatura.
Outra demonstração do apreço que lhe dedicavam é o facto de que, quando o catalão se deslocava a Londres, para reuniões com os editores, estes enviavam um luxuoso Rolls-Royce, com motorista fardado, recolhê-lo no aeroporto, para o conduzir à Fleetway House, em Farringdon Street.
CHARLAS & COPAS
Nos anos 80 do século passado, Jesus Blasco foi, por várias vezes, presidente da comissão organizadora do Salón del Cómic de Barcelona.
Quando eu tinha os meus cinco anos, já lia (ou melhor, soletrava) jornais infantis. Nesse tempo, publicava-se em Portugal um jornal de pequeno formato, O Mosquito, que, devido ao módico preço de capa (cinco tostões) e às aventuras que inseria, se tornara bastante popular. Com uma tiragem semanal capaz de fazer inveja à dos seus confrades mais recentes (60.000 exemplares, aproximadamente), O Mosquito ocupava uma posição privilegiada entre as publicações da época, apesar do seu reduzido número de páginas e da fraca qualidade do papel em que era impresso.
Essa popularidade atingiu o auge quando começou a publicar, no n° 508, de 6/5/1944, as aventuras de Cuto, um pequeno herói de cabelo ruivo e rosto cheio de sardas, corajoso, perspicaz e ágil como um gato. Cuto era uma criação do jovem artista espanhol Jesús Blasco, que iniciou a sua carreira aos 14 anos — como já foi referido nesta rubrica —, depois de ter sido premiado num concurso de desenhos organizado pela revista Mickey.
Pequeno, desenvolto, inteligente, com um agudo sentido de observação e reflexos prontos como o raio, Cuto não tardou a tornar-se o maior ídolo dos rapazes portugueses desse tempo, que vibravam com as suas aventuras e desejavam em segredo imitá-lo, identificando-se facilmente com aquele rapaz tão humano, tão parecido com eles, que nada tinha de um super-herói, "um rapaz como qualquer outro (como escreveu o crítico espanhol Luis Gasca), embora vivesse aventuras excepcionais e experiências que normalmente estavam vedadas aos rapazes da sua idade, conduzindo com mão segura lanchas a motor, aviões e velozes automóveis desportivos".
Mais popular ainda do que Tintin — que, ao tempo, se publicava n'O Papagaio —, Cuto foi o ídolo, o herói indiscutível de uma geração, que ainda hoje o recorda com emoção e saudade. Após um eclipse que durou vários anos — entretanto, Blasco começou a trabalhar para Inglaterra, criando outras personagens que lhe deram mais fama e dinheiro, como o misógino Garra de Aço —, Cuto voltou a ressurgir em Portugal, numa revista que herdou até o seu nome: o Jornal do Cuto, meritória iniciativa de Roussado Pinto, homem a quem a história da Banda Desenhada no nosso país muito deve.
Exemplo de vocação precoce, Blasco tomou para modelo de Cuto o seu irmão Alejandro, a quem todos em família tratavam por essa carinhosa alcunha. Cuto e os seus amigos Gurripata y Camarilla formavam uma pandilha de garotos travessos que apareceu pela primeira vez nas páginas de uma publicação chamada Boliche. Mais tarde, abandonando a faceta cómica, Blasco iniciou uma nova etapa da sua carreira no semanário Chicos, editado em San Sebastian, do qual viria a tornar-se, ao longo dos anos, um dos mais apreciados colaboradores. »»
O maior sucesso só chegou com " Garra deAço" (The Steel Claw), a história de um vilão convertido em herói, publicada na revista Valiant de 1962 a 1973, com argumentos de Tom Tully.
Os editores ingleses raramente permitiam que os artistas assinassem os seus trabalhos, no entanto, para Jesus Blasco, abriram uma excepção, aceitando que, nos seus desenhos, o artista incluísse a sua assinatura.
Outra demonstração do apreço que lhe dedicavam é o facto de que, quando o catalão se deslocava a Londres, para reuniões com os editores, estes enviavam um luxuoso Rolls-Royce, com motorista fardado, recolhê-lo no aeroporto, para o conduzir à Fleetway House, em Farringdon Street.
CHARLAS & COPAS
Nos anos 80 do século passado, Jesus Blasco foi, por várias vezes, presidente da comissão organizadora do Salón del Cómic de Barcelona.
O mestre catalão era um anfitrião caloroso para os "peregrinos" portugueses: artistas, argumentistas, coleccionadores, fans e cronistas que se deslocavam ao festival, eram depois acolhidos na privacidade da mítica torre dos Blasco, ocasião ideal para animadas charlas e reconfortantes copas. »»
Cuto em "Tragédia no Oriente"
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O Louletano, 9 | Fevereiro | 2009
Essa popularidade atingiu o auge quando começou a publicar, no n° 508, de 6/5/1944, as aventuras de Cuto, um pequeno herói de cabelo ruivo e rosto cheio de sardas, corajoso, perspicaz e ágil como um gato. Cuto era uma criação do jovem artista espanhol Jesús Blasco, que iniciou a sua carreira aos 14 anos — como já foi referido nesta rubrica —, depois de ter sido premiado num concurso de desenhos organizado pela revista Mickey.
Pequeno, desenvolto, inteligente, com um agudo sentido de observação e reflexos prontos como o raio, Cuto não tardou a tornar-se o maior ídolo dos rapazes portugueses desse tempo, que vibravam com as suas aventuras e desejavam em segredo imitá-lo, identificando-se facilmente com aquele rapaz tão humano, tão parecido com eles, que nada tinha de um super-herói, "um rapaz como qualquer outro (como escreveu o crítico espanhol Luis Gasca), embora vivesse aventuras excepcionais e experiências que normalmente estavam vedadas aos rapazes da sua idade, conduzindo com mão segura lanchas a motor, aviões e velozes automóveis desportivos".
Capa de "O Mosquito" n° 508, início das historietas do Cuto
Mais popular ainda do que Tintin — que, ao tempo, se publicava n'O Papagaio —, Cuto foi o ídolo, o herói indiscutível de uma geração, que ainda hoje o recorda com emoção e saudade. Após um eclipse que durou vários anos — entretanto, Blasco começou a trabalhar para Inglaterra, criando outras personagens que lhe deram mais fama e dinheiro, como o misógino Garra de Aço —, Cuto voltou a ressurgir em Portugal, numa revista que herdou até o seu nome: o Jornal do Cuto, meritória iniciativa de Roussado Pinto, homem a quem a história da Banda Desenhada no nosso país muito deve.
Exemplo de vocação precoce, Blasco tomou para modelo de Cuto o seu irmão Alejandro, a quem todos em família tratavam por essa carinhosa alcunha. Cuto e os seus amigos Gurripata y Camarilla formavam uma pandilha de garotos travessos que apareceu pela primeira vez nas páginas de uma publicação chamada Boliche. Mais tarde, abandonando a faceta cómica, Blasco iniciou uma nova etapa da sua carreira no semanário Chicos, editado em San Sebastian, do qual viria a tornar-se, ao longo dos anos, um dos mais apreciados colaboradores. »»
Capa do 1° número do "Jornal do Cuto"
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CUTO EM NÁPOLES (4 e 5)
(Continua..)
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Grande artigo sobre Jesus Blasco.
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