segunda-feira, 23 de abril de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XXXVIII e XXXIX) – NO CENTENÁRIO DE RAUL CORREIA (3 e 4) – por Jorge Magalhães

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9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(XXXVIII - XXXIX)

O Louletano, 14 a 20 de Dezembro 2004 


 NO CENTENÁRIO DE RAUL CORREIA (3) 

 por Jorge Magalhães

Mas, à maioria, a prosa do Eça não pareceu tão aliciante como as aventuras do Príncipe Valente e de Tommy o Rapaz do Circo, apesar dos desenhos de Coelho constituírem uma perfeita recriação do texto, sublimando a sua beleza ímpar. 

Raul Correia fazia dessa faceta didáctica um dos seus maiores trunfos, uma questão de prestígio, mas o tempo reservava-lhe uma amarga desilusão, pois fora do pequeno círculo de leitores fiéis (entre os quais eu me incluía) a iniciativa passou quase despercebida. Essa fase assinalou também o regresso do Avozinho e da sua lira, substituídos a breve trecho pela rúbrica "Antologia", que publicou excertos de outros grandes prosadores e poetas da nossa língua. 

Espírito refinado e culto, Raul Correia quis imprimir essa marca ao seu jornal, como é patente também na escolha de séries cujo espírito inteligente e adulto destoava de muitas das suas congéneres: Garth, de Steve Dowling, Buck Ryan, de Jack Monk, Lesley Shane, de Oliver Passingham, O Misterioso Mr.Toots, de Tony Royle, todas de origem inglesa; e alguns comics americanos que, embora relativamente pouco populares, privilegiavam também a qualidade: Jed Cooper, de Lloyd Wendt e Dick Fletcher, Terry e os Piratas, de George Wunder, Rex Morgan, de Bradley & Edington, além de curtas mas boas histórias francesas com a assinatura de Pierre Leguen, Paul Gillon e outros. Conseguiu assim abrir uma brecha no comercialismo reinante na imprensa juvenil (que se vendia, como ele apregoou diversas vezes, graças aos sorteios de bicicletas, máquinas fotográficas e aparelhos de rádio), mas os seus sonhos traíram-no. Houve até quem sustentasse, como Roussado Pinto, que o excessivo interesse pelo autor do "S. Cristóvão" despovoou as hostes d'O Mosquito, perante uma concorrência mais forte, mais atenta aos gostos do público, embora cultural e artisticamente menos apetrechada. 

Por muito bom que fosse o seu conteúdo, os rivais tinham mais páginas, mais cores, maior tiragem, grande variedade de temas e de personagens, e além disso sabiam utilizar outras armas, como a publicidade, os concursos, as separatas e os prémios semanais, para atrair os compradores. Na luta pelo mercado, o espírito de missão, de apostolado, que caracterizava os jornais infanto-juvenis dos anos 20 e 30, dera lugar a uma estratégia de "marketing" apoiada em grandes firmas editoriais como a Agência Portuguesa de Revistas e a Empresa Nacional de Publicidade.

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O Louletano, 21 a 27 de Dezembro 2004 

NO CENTENARIO DE RAUL CORREIA (4) 

por Jorge Magalhães 

Quanto ao Mosquito, nesses anos de crise, contava já com poucos trunfos, e nem mesmo a reaparição ocasional de velhos e queridos heróis, como Cuto e Serafim e Malacueco, lhe restituiu o esplendor perdido. E certo que também tinha Raul Correia e E. T. Coelho – o verbo e o espírito, o sonho e a unção – mas repita-se em abono da verdade, que já poucos se interessavam por eles e por histórias como "Os Doze de Inglaterra", uma das últimas obras-primas dessa dupla memorável.

Pela mesma época, assistiu-se ao regresso de Orlando Marques, que voltando a pegar na caneta com entusiasmo, acompanhou até ao fim o jornal onde se estreara, produzindo ainda algumas boas novelas num estilo inconfundível que não mudara com o tempo. De Lúcio Cardador, o seu competidor mais directo, há muito que não havia notícias; e Raul Correia parecia também cansado de escrever, encolhendo-se modestamente na sombra do Eça, o seu patrono literário. Se continuasse a dar largas à imaginação, teria provavelmente posto de lado as histórias de aventuras, enveredando por uma temática mais séria, de que já havia fortes laivos em "O Natal do Fragateiro" (o seu último conto publicado n'O Mosquito).

Mas não há dúvida de que esse longo período de voluntário anonimato (curiosamente, "O Natal do Fragateiro" tinha apenas como assinatura umas modestas iniciais) não o privou de nenhuma das suas faculdades literárias, embora lhe enchesse o espírito de melancólicas recordações e vagas saudades do Avozinho, como transparece no tom poético e magoado dessa história de Natal.

Na fase final d 'O Mosquito (em que António Homem Christo figurava como editor e Raul Correia como director e proprietário e a redacção se mudara para o Largo Trindade Coelho, 9 - 2° onde também funcionavam os serviços da revista Eva, uma das publicações de maior tiragem dessa época), a distribuição fazia-se já com bastante parcimónia e é natural que as preocupações administrativas roubassem ao pai de Rudy Carter o estímulo criativo. O certo é que, depois d'O Livro de Apontamentos, o último caso do seu maior herói detectivesco, nunca mais brotaram da sua pena, afeita aos lances aventurosos e de pura emoção, outras narrativas originais no género das que o tinham celebrizado nos primeiros tempos do Tic-Tac e d'O Mosquito.

Em vez disso, escolheu a literatura infantil, em homenagem ao pseudónimo do Avozinho (de que tantos ainda se lembravam) e a religiosa, aproximando-se de Deus quando já pouco mais podia esperar dos homens!...

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A MALDIÇÃO BRANCA (1 - 2)
Por José Garcês


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HOMENAGEM A MOEBIUS NO KUENTRO E NO BDjornal #29

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