domingo, 12 de maio de 2013

GAZETA DA BANDA DESENHADA (4) – NA GAZETA DAS CALDAS – AUTORAS PORTUGUESAS VENCEM CONCURSO DE MANGÁ [BD AO ESTILO JAPONÊS] NO REINO UNIDO


GAZETA DA BANDA DESENHADA (4)
NA GAZETA DAS CALDAS 
AUTORAS PORTUGUESAS VENCEM CONCURSO DE MANGÁ [BD AO ESTILO JAPONÊS] NO REINO UNIDO 


Gisela Martins, de 33 anos, natural de Proença-a-Nova, e Sara Duarte Ferreira, lisboeta de 31 anos, residentes em Londres, venceram o Manga Jiman Competition 2012, entre setenta participantes a nível internacional, com a história curta I Love You. O Manga Jiman é organizado pela Embaixada do Japão em Londres desde há seis anos e abarca apenas trabalhos de banda desenhada em estilo japonês, ou mangá.

A palavra japonesa manga (que se pronuncia mangá – e que os brasileiros escrevem mesmo com o acento, no que foram seguidos por alguns portugueses, para não haver confusão com as partes do vestuário que envolvem os braços), designa a banda desenhada japonesa e foi criada por Katsushika Hokusai, com o significado original de desenhos irresponsáveis, para designar as suas célebres caricaturas, publicadas entre 1814 e 1834 na cidade japonesa de Nagoya. Através sobretudo do cinema de animação, ou animé (em japonês) passado na televisão, o estilo nipónico começou a cativar os jovens europeus, numa primeira fase com a série “Heidi”, em meados dos anos 1970 e depois definitivamente, em meados dos anos 1990 com a série animada “Dragon Ball”, seguida de perto pelos jogos de consola e cartas “Pokémon”. A partir daí assistiu-se ao aparecimento em catadupa de jovens autores europeus de banda desenhada em estilo mangá. Só por curiosidade, registe-se que o Festival de mangá Japan Expo, de Villepinte – subúrbio de Paris – teve 208.000 visitantes em 2012 (contra 192.000 em 2011) e aquele que é considerado o maior Festival de BD do mundo, em Angoulême, teve 215.000 visitantes, em 2012 (contra 218.000 em 2011).

Portugal não foi excepção a este movimento, dando origem a uma legião de jovens autores que eventualmente nunca teriam optado pela realização de histórias desenhadas se não tivesse havido a influência dos referidos desenhos animados. Curiosamente, estabeleceu-se desde logo um domínio maioritariamente feminino na autoria deste estilo de banda desenhada, coisa que nunca aconteceu na BD tradicional europeia ou americana.

Como em qualquer outra banda desenhada, a mangá desdobra-se numa série de estilos, desde os mais populistas aos mais futuristas e isso reflecte-se também nos seus cultores europeus.

Voltando ao Manga Jiman 2012. As duas autoras portuguesas, Gisela e Sara, entraram na prova – subordinada ao tema “Ganbare”, uma expressão japonesa que significa ‘Dá o teu melhor’, ‘Não desistas’, ‘Vai em frente’ – com uma história denominada “I love you”, que acabou por lhes valer o primeiro prémio, anunciado no passado mês de Fevereiro. A escolha deste tema deveu-se, essencialmente, a todas as dificuldades passadas recentemente pelo Japão.

A história "I Love You" conta a história de um rapaz, Brian, "que desde pequeno se apaixonou por Sophie". "Ao longo dos anos tenta, sem sucesso, confessar os seus sentimentos por ela até que finalmente ganha coragem para o fazer", contam as autoras.

O primeiro prémio vai proporcionar-lhes viagens ao Japão e a participação na imagem gráfica do próximo concurso. Foram também convidadas para workshops na Iberanime, evento dedicado à cultura japonesa, realizado a 13 e 14 de Abril, no Pavilhão Atlântico em Lisboa.

As duas autoras – profissionalmente designers e ilustradoras – desenvolveram "percursos profissionais independentes" durante algum tempo mas, em 2011, decidiram agrupar-se e montar um estúdio freelance em Londres. "Somos as directoras artísticas do trabalho uma da outra, acreditamos que as diferenças de estilo entre as duas complementam o trabalho final e permitem-nos alcançar um número maior de clientes", contam elas. A paixão pela mangá era também um factor de união.

Tiveram sempre apetência pelo desenho e, em miúdas, graças às animações "que passavam na televisão, o interesse aumentou". Sara e Gisela passaram muitas horas "com a cassete de vídeo pausada, a fazer desenho à vista", recordam. Mais tarde, com recurso a livros de banda desenhada japonesa e manuais de desenho, foi mais fácil "começar o projecto autodidacta e desenvolver" um estilo e uma aprendizagem "mais séria".

Participaram em revistas independentes que publicavam mangá e procuravam eventos de animé e mangá em Inglaterra e “encontrámos blogues ingleses a falar sobre o Manga Jiman. Assim que descobrimos que não havia limitações quanto à nacionalidade dos participantes, decidimos imediatamente tentar a nossa sorte", afirmam. Queriam acima de tudo, conhecer pessoas na área da publicação e criação de mangá no Reino Unido, visto ser uma das áreas em que trabalham e pela qual nutrem um "carinho especial".

Depois da vitória há novos projetos em vista: para já, as duas jovens estão a desenvolver duas histórias originais para participar na criação de uma antologia para o concuso de 2013, com os anteriores vencedores do Manga Jiman.


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1 comentário:

  1. Eis uma palavra que eu detesto que se use sistematicamente: mangá! É um erro substituí-la sempre por "banda desenhada" quando se refere à banda desenhada japonesa. E o Machado-Dias parece ter consciência da forma como ela é abusivamente usada quando neste artigo a explica entre parêntesis.

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