quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (23) – COLECÇÃO NonArte CADERNOS DO CNBDI (2) + AMIGOS DO CNBDI (16) por José Ruy

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI - 23

Depois dos posts dedicados ao projecto da Associação de Autores, voltamos ao material do CNBDI, desta vez com o Catálogo de Autores de Banda Desenhada Portuguesa, de Nelson Dona e Cristina Gouveia – o 6º volume, editado em 2003, alterando nós aqui a ordem destes “Cadernos”. Mas acontece que este “Catálogo” vem talvez na sequência do Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, de Leonardo De Sá e António Dias de Deus, o 2º volume da colecção, editado em 1999 e postado aqui no Kuentro em 2 de Maio de 2013. De referir que este “Catálogo” nos parece um pouco despropositado nesta colecção do Centro, uma vez que o Dicionário dos Autores é muito mas completo, contendo as biografias e principais obras de cerca de 550 autores. O “Catálogo”, além de catalogar as obras de apenas 77 autores, ficou obviamente limitado às obras publicadas até 2003 (pelo que o seu interesse é diminuto), numa edição quase luxuosa, a cores. Isto para não falar das várias gralhas e algumas incorrecções que nele encontrámos. 

COLECÇÃO NonArte 
CADERNOS DO CNBDI (2)
CATÁLOGO DE AUTORES 
DE BANDA DESENHADA PORTUGUESA



Catálogo de Autores de Banda Desenhada Portuguesa
Nelson Dona e Cristina Gouveia
Formato 23 x 35, 88 págs a cores
2003, CNBDI – Câmara Municipal da Amadora

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AMIGOS DO CNBDI (16)

José Ruy

Na quarta e última sessão de 2011que se realizou no CNBDI, na rubrica «Às Quintas Falamos de BD», o tema escolhido pela direção foi: «Novos Caminhos para a BD».


Poucos meses antes, tinha sido convidado pelo professor Paulo Guinote a fazer uma sessão sobre o meu trabalho pedagógico em «Quadrinhos», numa escola da Baixa da Banheira.

Quando me veio buscar ao ateliê, acompanhava-o um jovem que se me apresentou: era o Luís Cruz Guerreiro, autor de Histórias em Quadrinhos, mas com uma particularidade muito curiosa.

As suas aventuras não eram desenhadas em papel, como tradicionalmente, nem em suporte digital, processo mais atual, mas sim sobre painéis de azulejo. Isso mesmo. Cada prancha era concebida em superfícies de conjuntos de seis azulejos de formato normal, desenhada com contornos a preto e colorida com as tintas próprias da azulejaria para irem à mufla cozerem. A grande dificuldade no colorido, está em que as tintas são à base de cinzentos, e só depois da temperatura do forno se transformam nos vermelhos, nos amarelos, azuis e outras cores. Eu desconhecia este artista e a sua arte. Fiquei fascinado, até porque ele não se limitou a fazer uma experiência ou uma história curta, tinha já uma aventura com 18 «páginas» que completava o primeiro episódio de uma série de cinco, a publicar até 2015, em que se encontrava a trabalhar. Essa história tinha-a já impressa em papel de ótima qualidade, formando uma revista com 28 páginas, envernizada, o que lhe emprestava o aspeto do vidrado do azulejo. Dentro, uma separata desdobrável com a reprodução de um painel de 36 azulejos.

Ainda mais curioso, é que o Luís Guerreiro não aproveitou a esquadria de cada azulejo para delimitar as vinhetas. Desenhava à vontade, contrariando as uniões. Essa revista foi impressa no Rio de Janeiro, por «Arquimedes Edições».

No sonho deste amigo, a que ele próprio apelida de utopia, estava o de conseguir uma «encadernação» em couro dos originais, num livro gigante. A história é aliciante, passada noutras galáxias, numa antecipação científica cheia de movimento e aventura.

Pensei logo que seria uma novidade para incluir na sessão do CNBDI, com o tema: Novos caminhos para a BD. Participei à diretora do Centro, que acolheu esta novidade com muito agrado e às 21 horas do dia de 26 de Maio de 2011 fez-se essa sessão memorável.

Participaram O Luís Guerreiro, o João Amaral, o José Pires e eu, todos autores de narrativas gráficas ou quadrinhos. Quando o Guerreiro apresentou a base em que trabalhava as suas Historias o espanto foi geral. Não era de supor antes, que um original de BD pudesse ter um tal suporte. Depois ele explicou todo o desenvolvimento do processo, para delícia da assistência.

O João Amaral apresentou um Power Point onde demonstrou o seu processo de dar a cor digitalmente, depois do desenho a traço da construção das figuras, feito a tinta-da-china em papel, começando por aplicar os tons mais fortes e depois sobre essas zonas, a sobrepor as tonalidades mais claras, afinal na técnica da pintura tradicional do óleo sobre tela ou madeira.

Ao contrário da aguarela, que começa pelos tons mais claros e suaves sobrepondo-se-lhe os mais escuros. E isto digitalmente. O José Pires que foi pioneiro entre nós a usar o Photoshop para colorir as suas histórias, mostrou os originais a tinta-da-china sobre papel vegetal das diversas personagens, que trabalha isoladamente, para as reunir em cada vinheta, depois de digitalizadas, e já no computador. De resto chegou-se à conclusão de que tanto o João Amaral como eu, tínhamos sido aliciados e iniciados no digital pelo José Pires. Pela minha parte, devo também muito aos ensinamentos amigos do arquiteto Leonardo De Sá, no que hoje consigo realizar neste «novo caminho da BD».

Foquei a minha intervenção na observação dos «muitos caminhos que têm vindo a ser usados na BD» através do tempo, e não apenas nos atuais, a que chamamos «novos». Desde que comecei a fazer Histórias em Quadrinhos, na década de 1940 até 2011 (na altura desta sessão), assisti e trabalhei nos vários processos em evolução constante, considerando que afinal tem sido a Arte Gráfica a impor sempre o modo como se tem trabalhado os originais da narrativa gráfica. É ela que tem marcado o caminho que se discutia naquela sessão no CNBDI.

Perguntei aos presentes se sabiam a razão porque não existem hoje originais do Tiotónio, das personagens Zé Pacóvio & Grilinho publicadas n’O Mosquito. Estava à vontade porque privei com ele e assisti ao seu processo de trabalho durante anos pois era vizinho dos meus pais na Amadora. Ninguém soube responder, mesmo os participantes nas palestras. Expliquei então o «mistério» porque logo após a publicação dos seus desenhos os originais desapareciam.


(continua...)

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