GAZETA DA BD (13)
NA GAZETA DAS CALDAS
in Gazeta das Caldas, 13 de Setembro de 2013
Jorge Machado-Dias
EPÍLOGO
e os outros livros de Topedro
Os títulos dos livros editados por Topedro:
O Céu é Meu é Meu O Mar – Sob um texto de Stefana Serafina (“The Daughter of Time”) e desenhos de Topedro.
Mores et al
Fragmentos (ensaio gráfico)
O Burro da Berlenga (Colectânea – textos de Fernando e desenhos de Pedro)
Autobiografia sem Factos
Diário dum Pária de Aldeia
O Nome do Pai (Auto Grafia)
O Pequeno Outro (Biogra Fria)
A Minha Avó Conceição
Epílogo
A questão é que não podemos falar de Epílogo (editado em Julho passado), sem falar dos livros anteriores. Estão todos ligados.
Se o género “diários gráficos” ou “reportagens gráficas”, são os mais conhecidos e os mais populares entre o público, Topedro cultiva um género menos “na moda”: as “autobiografias” ou “memórias gráficas”! Só que... as memórias não são nunca organizadas cronologicamente na cabeça de quem as viveu. São fragmentadas. Sobrepõem-se por vezes. Misturam-se. E se lermos todos os livros de Topedro pela ordem da sua publicação, chegamos a essa mesma conclusão.
Devo dizer que não tive oportunidade de ler O Burro da Berlenga, Autobiografia sem Factos e Diário dum Pária de Aldeia – tudo o que conheço destes livros são os “previews” que Topedro publicou no site que refiro acima e as críticas que escreveu Pedro Moura, no seu blogue LerBD.
Não resisto a citar Pedro Moura no início da crítica que escreve sobre O Céu é Meu é Meu O Mar: “(...) Uma das questões mais interessantes e complexas é a relação entre a ordem do que nos é contado e a ordem pela qual recriamos esse universo quando nos lembramos dele, depois da leitura (...)”
E isto aplica-se à leitura do conjunto dos livros que Topedro publicou até agora. Em O Céu é Meu é Meu O Mar (a cores – aguarela) evoca um episódio da adolescência tardia – início da idade adulta? –, um pequeno melodrama entre um professor norte-americano a dar aulas na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e uma das suas alunas (búlgara), que se apaixona por ele, seguindo-se uma ida para Zambujeira do Mar. A búlgara (Stefana Serafina) e uma amiga da mesma nacionalidade encontram lá o autor deste livro – explica o próprio, numa espécie de “posfácio” a preto e branco –, que, seis meses mais tarde receberá por email um texto de Stefania, “The Daughter of Time”, contando a história que originou o livro...
Em Mores et Al, começando com o rescaldo do episódio anterior (“Voltei de férias a pensar...”), deriva depois para momentos mais próximos da actualidade (já com referências gráficas a Óbidos, Foz do Arelho, Berlengas, Parque de Caldas da Rainha, etc...), sobre considerações mais metafísicas no geral. Fragmentos (ensaio gráfico), a cores, é talvez o preâmbulo das memórias que irão seguir-se: “Um projecto sem esperança, urgente, indispensável...”
Em O Nome do Pai, o autor revê a infância, escrevendo no início “Não recordo nenhum episódio anterior aos meus 3 ou 4 anos. Depois há o beijo à minha vizinha...” e vai por aí fora. Rememora todas as fases da infância e adolescência, sobretudo através dos carros que foi tendo, até regressar à fatídica 4L “promovida a GTL” em que, “Com ela, mas não por ela, fui apanhado na armadilha conjugal” e depois, a desilusão: “Já só queria ler e pintar...”.
No livro seguinte, O Pequeno Outro, o autor recupera todo o material de O Nome do Pai e junta-lhe uma segunda parte, onde reconta tudo o que contou nesse livro, avançando mesmo um pouco mais na teia da idade rememorada mas, a partir de “Depois há o beijo à minha vizinha...” a narrativa é agora através das mulheres que foi conhecendo.
Já em A Minha Avó Conceição, relembra a família, a avó Conceição, o primo Joaquim, a tia Júlia, a empregada doméstica, etc..., até ao cão, o Janota. É um livro que funciona como “apêndice” da memória principal, da qual não deixa de fazer parte.
O novo livro, que dá o título a esta crónica, Epílogo, lembra logo no início um qualquer episódio, sem grandes referências para o situar com alguma precisão numa “biografia” – funciona quase como um “intermezzo” – contado na primeira pessoa (ou será que o “outro” que descreve, será “ele próprio”, o autor, visto por um “outro”?). A segunda parte do livro é já escrita na terceira pessoa e relembra “Vivia numa ressaca latente, como a paz entre duas guerras é rearmamento, assim era cada chuto.” Depois a desintoxicação, a agonia da abstinência... Ponto final.
Será o fim das memórias?
É caso para dizermos, a concluir e contrapondo ao que afirma Pedro Moura no texto citado acima, a desordem assumida com que é contada a vida do autor (verdadeira ou ficcionada, temos sempre que supor) nesta série de livros, é no final, remontada mentalmente pelo leitor na “ordem certa” – sobretudo se reconhecer os ambientes históricos e sociais que rodeiam as narrativas. Topedro fala disso mesmo em Fragmentos – a fragmentação do tempo e da memória.
Páginas de Epílogo
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OS LIVROS DE TOPEDRO
ESTÃO À VENDA NA
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