sábado, 10 de julho de 2010

BDpress #140: SAI NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA O SEGUNDO ÁLBUM DA NOVA SÉRIE PÚBLICO-ASA, “GASTON LAGAFFE – GAFES EM BARDA”

Público - Sexta-feira 9 Julho 2010

Carlos Pessoa

GAFES EM BARDA, SEGUNDO ÁLBUM DA COLECÇÃO DE BANDA DESENHADA GASTON LAGAFFE

Amante da "gastronomia" e de todo o tipo de animais

Postos ao serviço da criatividade, a imaginação, sentido de humor e capacidade de observação de Franquin dão o resultado que todos conhecem: uma banda desenhada genial que se recusa a envelhecer

GAFES EM BARDA
Quarta-feira, 14 de Julho
Por + 6,40 €

Ver Gaston emolado num trombone, com o qual quase tinha provocado surdez permanente em Fantasio, não é uma coisa que aconteça todos os dias. Por isso, não espanta a surpresa do homem chamado para resolver o problema: "Há 30 anos que sou canalizador e nunca me pediram um serviço como este... Nunca!"

Esta é apenas uma de muitas situações que podem ser encontradas no segundo álbum da colecção Gaston, Gafes em Barda. A sucessão de gags, saídos directamente da imaginação, sentido de humor e capacidade de observação de Franquin, ajudam a compor um retrato cada vez mais preciso e focado do herói. Serão precisas mais de três centenas e meia de pranchas para ver Gaston deixar de fumar, por exemplo. Mas antes que isso aconteça, ainda lançará o pânico na redacção da revista Spirou com o seu cachimbo fumarento, como acontece numa situação deste álbum.

E que dizer dos hábitos alimentares do herói, susceptíveis de pôr os cabelos em pé ao menos exigente dos nutricionistas? É lendária a inclinação de Gaston por um leque alargado de produtos populares e pouco requintados, como sardinhas em lata, salsichas já se vê, industriais ou crepes... E quase seria desnecessário acrescentar que o apuro gastronómico de tais petiscos é feito sempre no escritório, com prejuízo para o exercício das suas mal definidas funções profissionais, além de empestar o ar com odores gordurosos e repugnantes.

De vez em quando, num assomo de criatividade gastronómica, Gaston elabora uns sofisticados pratos de peixe com morangos ou bacalhau fresco com ananás que, para sua grande decepção, não faz muitos adeptos entre o círculo de amigos e conhecidos...

Tal como Franquin, o herói é um intransigente militante das causas animais. Há gatos bebés cuidadosamente alimentados a biberão, ratinhos recém-nascidos aninhados em gavetas de arquivo ou pombos defendidos, com a própria vida, dos numerosos predadores, sejam ou não humanos. Não contente com estas manifestações de proselitismo animal, Gaston rodeia-se com o tempo de numerosas criaturas com características absolutamente impagáveis. Fazendo um breve inventário: há um gato "passado", cujo modelo inspirador era o próprio felino de Franquin; uma gaivota neurasténica que ataca todas as pessoas à sua volta nos dias não; um peixinho vermelho (o Bolinhas); e, para concluir, uma mão-cheia de ratinhos que residem em permanência na redacção. Outros animais passam pelas pranchas da série de forma mais pontual - é o caso de uma vaca que ganhou a lotaria, do ouriço Quemetoca, de um elefante pintado de cor-de-rosa, de tartarugas marinhas e de um pequeno leão, além de uma perua e um lavagante que só escapam de acabar os seus dias numa panela graças à intervenção in extremis do herói...

UMA PERSONAGEM: FANTÁSIO

Fantásio, o mesmo que contracena com Spirou nas aventuras deste herói, é o chefe de redacção na revista... Spirou. A situação mais frequente em que se vê metido é a tentar que De Mesmaeker assine os famosos e lendários contratos. Missão impossível. já se vê, pois Gaston tudo faz involuntariamente, para que isso nunca aconteça...

Há um subtil efeito perverso nesta construção das personagens. Símbolo por excelência do que há de mais fantasioso e inventivo na série Spirou, Fantásio apresenta-se aqui como uma criatura séria e responsável. que lida muito mal com o improviso e o surrealismo de Gaston. Uma grande parte das situações mostradas na série põe as duas personagens frente-a-frente. Mas tudo muda a partir de 1969, quando Jean-Claude Fournier pega na série Spirou, Fantasio

desaparece de um dia para o outro, pois Franquin não queria que houvesse dois heróis diferentes e contrastados, para mais desenvolvidos por dois desenhadores tão diferentes.

O ÁLBUM

A genial criação de Franquin é o anti-herói por excelência da banda desenhada franco-belga. Passeia-se pela redacção da revista Spirou, onde o seu humor delirante e uma capacidade inventiva sem limites lançam a confusão e põem a cabeça em água a Fantásio, De Mesmaeker, Menina Joana, Prunelle ou agente de polícia José Narigudo. Gafes em Barda (argumento e desenho de Franquin, com a cumplicidade de Jidéhem) é o segundo álbum da colecção integral dos gags de Gaston, agrupados por ordem cronológica de saída e recolhidos em 19 álbuns de capa dura.
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André Franquin (1924-1997) e Gaston Lagaffe.


Inventos de Gaston Lagaffe. O mais célebre será o gaffophone (à direita)

Reconstituições (a três dimensões) do gaffophone. A da direita esteve no Salão Lisboa de Banda Desenhada e Ilustração em 1999 (foto arquivo Pedranocharco) e no Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, também em 1999.


Ilustrações da responsabilidade do Kuentro.
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