segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Bdpress #216: OS 75 ANOS D’O MOSQUITO – Pedro Cleto no JN de 14 Janeiro 2010

Jornal de Notícias, 14 Janeiro 2010

MOSQUITO DE 75 ANOS

F. Cleto e Pina

A 14 de Janeiro de 1936, há 75 anos, chegava aos quiosques portugueses um novo jornal infanto-juvenil. Era o primeiro voo de "O Mosquito", que duraria 17 anos e 1412 números e marcaria de forma indelével os quadradinhos nacionais.

O começo foi modesto: oito páginas em formato A4, papel de jornal de fraca qualidade e a presença de uma única cor apenas nas capas e nas páginas centrais. E um preço a condizer: 0,25 cêntimos nos tempos actuais, apresentando-se como "o jornal infantil mais barato".
Ao leme do insecto, estavam dois dos maiores nomes do jornalismo infanto-juvenil nacional, António Cardoso Lopes, o famoso Tiotónio, responsável pelo grafismo, e Raul Correia, que asseguraria grande parte da criação literária da nova publicação, bem como as traduções das bandas-desenhadas publicadas.

Juntos fizeram de "O Mosquito" "o primeiro movimento colectivo de rebeldia das crianças em Portugal", escreve António Dias de Deus em "Os Comics em Portugal". Por isso, ""O Mosquito" foi perseguido, confiscado, rasgado, queimado, deitado ao lixo, anatemizado e esconjurado. Os pais, aparentemente, tinham a razão e a força, mas acabaram por perder a guerra".

Três décadas e uma guerra

E o êxito foi imediato. Iniciado com uma tiragem de apenas cinco mil exemplares, no auge da sua popularidade atingiu 30 mil, era publicado duas vezes por semana e as máquinas onde era impresso trabalhavam seis dias por semana, em dois turnos de oito horas.

Combinando novelas ilustradas, textos mais moralistas e BD, recortadas e remontadas, "O Mosquito", "o jornal mais bonito", que ao longo da sua vida mudou de formato cinco vezes e chegou a ter 16 páginas, fez da interactividade com os leitores um dos seus grandes trunfos.
O êxito crescente levou à criação de colecções paralelas, números especiais, um suplemento para meninas - "A Formiga" - e emissões radiofónicas, que o fizeram voar atravessando as mudanças de três décadas e de uma guerra mundial.

Mais tarde, a colaboração estrangeira seria quase completamente substituída pela produção nacional. O grande sustentáculo da revista, foi, então, Eduardo Teixeira Coelho, que desenhou "Os Guerreiros do Lago Verde", "Falcão Negro" ou o mítico "O Caminho do Oriente". "A Casa da Azenha" (de Vítor Péon), "Os Espíritos Assassinos" (Jayme Cortez), "O reino proibido" (José Ruy) ou "O Inferno Verde" (José Garcês) também deixaram marca.

Com o correr dos anos, a chegada de novos concorrentes - "O Diabrete", "O Mundo de Aventuras", "O Cavaleiro Andante" - e a saída de Cardoso Lopes, a revista perde a rebeldia e fala cada vez menos à imaginação infantil.

Chegaria ao fim, de forma discreta, a 24 de Fevereiro de 1953. Mas deixara de tal forma a sua marca, que o termo "mosquito" chegou a ser usado para designar em Portugal qualquer revista de histórias aos quadradinhos.

Ao longo dos tempos tenha havido várias tentativas de retomar o título. Em 1960, Eduardo Carradinha e José Ruy, autor na primeira série, deram-lhe uma segunda vida, similar à primeira, que durou apenas 30 números. Um ano depois, nova tentativa de renascimento, teve apenas quatro números, mais longa mesmo assim que o número único de prospecção lançado em 1975.

Já nos anos 80, albergando sob as suas asas o melhor da BD europeia de então a par da recuperação de alguns clássicos, "O Mosquito" voou de novo, durante uma dúzia de números e um almanaque natalício, na sua última ressurreição. Até hoje.

Ainda hoje surgem colecções completas de "O Mosquito", que podem valer até 7500 euros. O alfarrabista José Vilela estima que existirão 50, mas Alberto Gonçalves, da Timtim por Timtim, refere que, com paciência, gastando mais um pouco, através da internet e procurando em alfarrabistas, é possível completar uma colecção em um ou dois anos.

No Chaminé da Mota, no Porto, há uma colecção completa à venda por 5000 euros.


As entrevistas com José Ray e José Garcês podem ser lidas no blogue "as Leituras do Pedro", AQUI e AQUI



1 comentário:

  1. > E um preço a condizer: 0,25 cêntimos nos tempos actuais (...)

    Na realidade o preço de $50 (5 tostões) corresponde a 0,0025 euros, ou seja um quarto de um cêntimo actual, fazendo a correspondência sem atender à desvalorização nem à inflação, claro está...

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