Jean Henri Gaston Giraud (Gir - Moebius) - 8 de Maio de 1938 - 10 de Março de 2012
Sobre o MAB fica aqui o recorte do texto de José Marmeleira, no Público de hoje, sobre o Festival.
Público, 10 Março 2012
DUAS AUTORAS QUE ABREM BRECHAS NA BANDA DESENHADA
José Marmeleira
O MAB está este fim-de-semana e no próximo nas Belas-Artes do Porto; é o regresso da BD à cidade, 11 anos depois.
O MAB, que assinala o regresso dos festivais de BD ao Porto, depois do fim do Salão Internacional, em 2001, apresenta dois nomes incontornáveis da BD contemporânea: Anke Feuchtenberger (n. 1963, Berlim Oriental) e Dominique Goblet (n. 1967, Bruxelas), que pouca ou nenhuma banda desenhada leram durante a infância. Importante? É.
Mesmo para muitos conhecedores de BD, serão assinaturas anónimas. Mas não são debutantes. Surgidas nos anos 1990, publicaram nas mais distintas editoras alternativas da Europa. F. ergueram um corpo de trabalho que rejuvenesceu esta arte visual, subvertendo imperativos comerciais. O erro, a experimentação e a liberdade estilística serviram esse fim. E continuam a servir.
Não espanta, por isso, a ruptura com tradição franco-belga. Vêm do exterior do mundo da BD. Depois de estudar ilustração em Bruxelas, Goblet encontrou no colectivo Fréon campo aberto para experimentar as relações entre texto e ima gem, aproximando a BD das artes plásticas. Tem interrogado as convenções e códigos da primeira, ora impondo-a à pintura ora usando esta última para nutrir as suas histórias. Tem explorado as relações humanas, a memória, a família, entre a autobiografia e a ficção, recorrendo a vários estilos e técnicas e, com frequência, à colaboração de Guy Mare Hinant.
Tal como ela, Feuchtenberger não leu BD durante a infância e parte da adolescência. Em Berlim Oriental, não tinha acesso a publicações do género. A sua carreira começou pelas pinturas murais, os posters eograffiti, antes de introduzir ao público, em 1993, as histórias de Die Hure H, figura e corpo feminino indefinível que habita lugares onde o quotidiano e o onírico se fundem. O medo, a dominação, a violência, a maternidade, o sexo são "assuntos" possíveis e os textos, de Katrin de Vries, acentuam a multiplicação de sentidos.
Nos últimos anos, o desenho a carvão tem enegrecido a construção de protagonistas e ambientes. Sem esconder a luz, enquanto a voz de um narrador exclui os balões.
Se Goblet explora as interações entre os indivíduos (num casal, numa família, numa relação mãe-filha), Feuchtenberger desenha histórias do corpo feminino. E as duas abrem brechas no corpo da banda desenhada.
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