sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

BDpress 405: ANGOULÊME 2014 – UM BALANÇO DO FESTIVAL – João Miguel Lameiras no “Diário As Beiras” – ver em Kuentro2:


ANGOULÊME 2014
UM BALANÇO DO FESTIVAL
Diário As Beiras, 8 Fevereiro, 2014
João Miguel Lameiras

Terminou no passado domingo a edição 41 do Festival Internacional de BD de Angoulême, a mais importante iniciativa europeia do género, que este ano premiou Bill Waterson, o genial criador de Calvin e Hobbes, com o Grande Prémio do Festival, vencendo assim uma corrida a três com Alan Moore e Katshuiro Otomo.

Independentemente da justiça desta distinção para um autor com uma obra relativamente curta (as tiras de Calvin duraram apenas 10 anos, entre 1985 e 1995), mas de qualidade indiscutível, a verdade é que a atribuição do Grande Prémio de Angoulême esteve envolta em polémica, face à alteração do método de eleição, com a decisão final a caber já não aos anteriores vencedores do Grande Prémio, mas a uma votação global feita pela Internet, onde puderam votar todos os profissionais de BD de qualquer nacionalidade, desde que tivessem trabalhos publicados em França. Além disso, tendo em conta o carácter reservado de Waterson, que não aparece em público desde que a série terminou e muito raramente dá entrevistas, é pouco provável que o vejamos no próximo Festival. Esperemos ao menos que faça a ilustração para o cartaz e empreste originais para a exposição que lhe será dedicada…

Um problema que não pôs este ano, pois Willem, para além de ter feito o (pouco inspirado) cartaz, esteve presente no Festival e teve direito a uma exposição no Hôtel Saint Simon que cobria os seus mais de 50 anos de actividade como ilustrador e cartoonista na imprensa francesa. Falando das exposições, o melhor do programa oficial estava no Vaisseau Moebius, o edifício em vidro que antigamente albergava o Museu da BD e o CNBDI, que, no ano em que se comemoravam os 100 anos da 1ª Guerra Mundial, acolheu as exposições de Jacques Tardi e Gus Bofa, dois autores separados por décadas, mas que retrataram os horrores da guerra com a mesma eficácia.

No espaço Franquin, cujos auditórios acolheram os encontros com os autores, estavam outras duas exposições. Uma mostra de grande público dedicada aos 50 anos da Mafalda, de Quino, que seria interessante trazer a Portugal e “Du Transperceneige à Snowpiercer”, exposição que aproveitando o sucesso do filme do coreano Bong Joon-Ho, recupera a BD de Lob, Rochette e Legrand, que lhe deu origem, juntando as pranchas originais de Rochette para a BD, com as ilustrações que fez para o excelente filme do realizador coreano, de que espero voltar a falar brevemente.

Espalhadas pela cidade, havia uma série de exposições dedicadas às séries “Les Légendaires” e “Ernest e Rebecca”, aos 80 anos do Journal de Mickey, à obra de Eienne Davodeau, à Sharaz-De de Sergio Toppi, já para não falar nas inevitáveis exposições e feiras do livro de BD cristã, presentes nas principais igrejas na cidade. Embora praticamente ausente da divulgação oficial, face ao conflito que opõe as direcções do Festival e da Cité Internationale de la bande dessinée et de l’image, responsável pela gestão do novo Museu da Banda Desenhada, a melhor exposição deste Festival, sobre o sonhe na BD, estava no Museu da Banda Desenhada. Acompanhada por um excelente catálogo, coordenado por Thierry Groensteen, a exposição “Nocturnes” estava ao nível das melhores exposições que já vi no Festival, contando com uma cenografia muito bem conseguida, que valorizava a acertada selecção de originais. Ainda no Museu, estava também uma mostra bem mais sóbria dedicada ao livro HP de Guido Buzzelli, em que a qualidade dos originais dispensava qualquer cenografia mais elaborada.

Mas a verdade é que a maioria dos visitantes do Festival, não terá visto qualquer exposição, pois passaram os dias enfiados nas gigantescas tendas, nas intermináveis filas, à espera de conseguir um autógrafo desenhado dos seus autores favoritos.

Não tenho números, mas pela maneira como já era difícil furar pelo meio da multidão que enchia as ruas da cidade na tarde de sexta-feira, ou pela fila quilométrica para a exposição de Tardi, na tarde de sábado, pareceu-me evidente que esta edição do Festival terá batido novos recordes de assistência, até porque as condições meteorológicas também ajudaram.

Quanto a presenças portuguesas, embora não faltassem visitantes nacionais, o destaque vai naturalmente para Paulo Monteiro, que esteve a dar autógrafos no stand da editora Six Pieds Sous Terre, que editou o livro do autor português em França, com excelente acolhimento da crítica.

Depois de quatro anos de ausência, foi bom regressar ao Festival de Angoulême e, para quem gosta de Banda Desenhada, esta é uma viagem que se deve fazer pelo menos uma vez.

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ALGUMAS FOTOS
de Jorge Fidel Alvarez em http://www.bdangouleme.com/


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